quinta-feira, 31 de março de 2011
Outros mares...
Tua pele traz o sal e o sol de tantos mares
Olhos gastos na visão de terras distantes
À procura da baía tranquila e almejada
Que o espírito aventureiro quis encontrar
Em rotas solitárias e desgastantes.
Quando ancorastes, rente ao meu cais
De longe avistei o farol que te exorcizava.
No poente desmaiando em ouro e lilás
Rendeu-se ao amor que em vão procuravas
E hoje és marujo desbravando meu mar.
-Helena Frontini-
Enquanto a música durar...
A música embala baixinho em tom gutural
Meu corpo moldado no vazio das esperas.
A vida derrama-se de meu ventre letal
Revolvendo fantasias e quimeras.
Chegue perto e sinta o eco de meu coração
Célere, com o vigor de quem vai embora,
Escapar do peito, deste peito sem emoção
Onde tudo mofa, adormece, embolora...
Hoje, esta lenta canção me acompanha
Ardendo na alma sua tristeza sem fim.
Olhos semi cerrados, como quem sonha
Que o mundo inteiro chora por mim.
-Helena Frontini
Eu te amo
Eu te amo, sussurro em teu ouvido
E as palavras tornam-se úmidas de apelos
Num abandono que estremece os sentidos
Quando nos enlaçamos ébrios de desejos.
Eu te amo, sussurras em meu ouvido
E as palavras tornam-se soltas em cativeiro
Como pássaros, pelo prazer rendidos
Ao amor que liberta o corpo inteiro.
-Helena Frontini-
O olhar de quem ama...
Teus olhos pousam sobre mim
Desvendando os poros e os sentidos
No eterno ritual do amor.
Em meio ao caos que me contagia
Reverberam como sóis incandescentes
Dissipando covardia e desvalor
Guardiões leais do real e da fantasia.
Teus olhos pousam dentro de mim
Denodando beatitude e abrigo
Como altares de reverente contrição.
Espelhos refletindo tua alma na minha
Juntos, na antessala da emoção.
O olhar de quem ama é abrangente:
Enxerga corpo, alma e coração.
-Helena Frontini-
Quase tarde...
Nunca encontrei-te, mas sinto que te perdi.
O tempo desfolha as pétalas de todas as flores
Não detem as águas que esfarelam as pedras
Ou o mar que arrasta-se terra afora.
Como encontrar-te se o destino não nos quis
Atados às mesmas dores e a iguais amores?
É quase inverno e quase murcha a erva
Que sob meus pés frios, descolora.
-Helena Frontini-
Feiticeiro
Prenda-me ao teu destino aventureiro
Leva-me em teu rumo que desvenda horizontes.
Vou ousar minha roupa de pirata ou marinheiro
Postar-me altaneira sobre a ponte
Em busca da terra prometida de leite e mel
Lá, onde ajuntam-se águas e céus.
Entrego-me inteira nas mãos deste temerário
Que faz-me beber a juventude de sua fonte.
Nosso sonho contido neste barco precário
Mas, dentro dele é a paixão que nos consome
Na maciez do leito recoberto de dossel
Singramos os sete mares ao léu.
-Helena Frontini-
Onde habitam os medos
Conheço uma rua gasta de pedras tortas
A casinha no final da rua é velha e tôsca
Pintura azul lascada com cheiro de podridão.
Todos os espelhos partidos, as cortinas rôtas
Proliferam vermes na matéria morta.
Tantas vezes me detive nesta escuridão...
Alí onde o medo dá flores e desabrocha
Nesta rua feia, chamada solidão.
-Helena Frontini-
Venha a nós, o circo!
Admiro o circo que monta e desmonta seus espaços...
Sua trupe de mágicos, trapezistas,domadores de leão
Bailarinas, equilibristas, unidos no constante estardalhaço
Em suas tendas e picadeiros ornamentados de emoção.
Adoro antes de tudo a doce puerilidade do palhaço
Qua alegra toda gente sem a minima distinção.
Que venha o circo em surdina ou com espalhafato
E nos faça sonhar em seu mundo de ilusão.
-Helena Frontini-
27 de Março...Dia do circo!
Bonde vermelho
Aperto as mãos no balaústre enquanto o bonde
De minha infância me faz viajar ao passado.
Sobre os trilhos o vagão segue barulhentamente
Janelas guilhotinas e porta que se desdobram
pachorrentamente em cada estação.
Descortino a paisagem das árvores verdejantes
E a frescura do ar que não provou poluição.
Do banco duro leio os reclames coloridos
De produtos quase em extinção...
O bairro mudou. Cresceu para cima e para os lados
Eu cresci, mas não para os lados...Graças a Deus!
Não existem mais bondes em minha história
A não ser em museus onde desfilam em exposição.
O bonde vermelho e o tilintar do sino afinado
Percorrem os caminhos que foram meus.
Seu estridente balouçar são parte da memória
E rodam nos trilhos antigos do meu coração.
-Helena Frontini-
Pollyanna
Por vezes tento ser como a doce Pollyanna
Aquela do filme fazendo o jogo do contente.
As palavras ficam amargando na garganta
Querendo atirar-se como flechas ardentes.
E se a voz sai velada por suave manta
Os olhos afogam-se na mágoa fremente.
Como continuar este jogo que desencanta
Quando ardo por soltar esta torrente?
Ela que fique no cinema como santa
Eu viro a mesa se me fazem descontente.
-Helena Frontini-
Cisne negro
Sempre fui diferente dos demais
A vida, uma esteira de luzes brilhantes
Onde os pés pousavam suavemente.
A diferença estava em minhas asas
Que elevavam-me além dos mortais.
Nunca o medo de cair desastradamente
Do orgulho de ser assim, endeusada.
Um dia as asas fraquejaram letais
Os pés deixaram de ser esvoaçantes
Cabendo a outra meu dom flamejante.
A fama soprou suas últimas brasas
No cerrar de cortinas dos acordes finais.
A vaidade cobrou seu preço justamente
Fazendo do voo, a queda anunciada.
-Helena Frontini-
Amor amigo...
Por muito tempo amei a todos e a ninguém
Sem licença atrevi-me em aventuras escusas
Vicejando meu desencanto por ruas escuras
Sob olhares compassivos ou de desdém.
Perdi-me em labirintos e caminhos deletérios
Entre monstros que habitavam meus espaços...
Deixe que eu repouse a cabeça em teu regaço
A febre me consome e tua mão é refrigério.
Nunca acreditei no conforto da amizade
Mas, teu amor tirou-me do abismo profundo
Com imensa ternura revalidou meu mundo
E em teus braços encontrei a serenidade.
-Helena Frontini-
terça-feira, 22 de março de 2011
Sem pressa...
A manhã tira-me de seus braços, assustada
Tanto a fazer e eu totalmente atrasada!
Rumo à cozinha e me atraco com as panelas
Sequer olhando a paisagem na janela.
Ele chega amoroso com o olhar apaixonado
Abre a porta e mostra-me o céu perolado
Onde o sol acomoda-se como em doce ninho.
Faz-me ouvir a cantoria dos passarinhos
E a deliciosa frescura do vento acariciante
Beijando o dia com ternura de amante.
Abraçadinhos, vamos para a rede namorar
O café não tem pressa...Pode esperar.
-Helena Frontini-
Fastio
Estou numa fase avara, de longos silencios.
As palavras saem engolidas e provisórias
E se as digo é porque se faz necessário
Um mínimo de comunicação e sensatez.
Desculpem, mas estou em fastio profundo!
Quando atingir o fundo do poço punitório
Onde prende-se a raiz deste meu cansaço
Prometo que volto a falar outra vez...
-Helena Frontini-
Vigília
De olhos abertos na fria noite outonal
Estremece entre o medo e a esperança
Que remetem a uma saudade abissal.
A doce aragem refresca o rosto abrasado
Onde a insônia viceja em fantasias.
O silencio profundo e o passar das horas
Consomem o tempo e a confiança.
Cintilam as lágrimas como rios prateados
Enquanto a noite escorre mundo afora.
Abraça o travesseiro e a insana lembrança
Do amado longe de sua cama vazia.
-Helena Frontini-
Castidade
Tens a alvura das flores da laranjeira
Perfume exalado de noivas virginais.
Teu porte de fidalga altaneira
Num corpo de desejos angelicais.
Meu verso descompassa em teu olhar
Transparente e puro como cristal.
Quer haurir o que prometes sem falar
Mas, emudece ante teu vulto de vestal
A chama sagrada que mantens acesa
Arde em minha poesia de forma velada
Tu, que és detentora de toda a realeza
Dá-me o céu sem dar-me nada.
-Helena Frontini-
Terra amada
Gosto da terra, revirar, plantar, adubar.
Sentir a vitalidade da polpa macia
Entre tatuzinhos, minhocas e caramujos.
Penso ter o dedo verde como o do menino
Que a um toque, tudo brotava e crescia.
Amo o perfume das malvas e dos gerânios
Acre cheiro de folhas que grudam nas mãos.
Hibiscos e rosas convivem com hortênsias
Entre samambaias e dentes de leão.
Orquídeas são as preferidas de meus mimos
Atadas na palmeira adoçam meu olhar.
Gosto da terra e sentir meus dedos sujos
Nma catarse invertida de prazer.
Com certeza ela corresponde ao meu querer
Dando-me cores e flores em profusão.
-Helena Frontini-
Gran Finale
Foram-se embora amigos e amores
Sem que eu saiba o porque do abandono.
Dei o melhor de mim e só tive dissabores
Sou rainha entregando seu trono.
Não deveria ter me tornado poeta
Criado invejas e rejeitos que nem pensei
Minha vida era tão boa, segura e certa
Hoje pairo no limbo que eu mesma criei.
Porque não me contive no ostracismo?
Ninguem sabia de mim,nem mesmo eu.
Revelar-me só resultou no niilismo
De minha imagem que se perdeu.
Onde os amigos sinceros, impolutos?
Perderam-se diluidos na poesia.
E a mim, resta-me o poder absoluto
De por fim a esta tola fantasia.
-Helena Frontini-
Mais que perfeito...
Amo cada pedacinho de teu corpo adorado
Teu cabelo curto e generosamente grisalho
Teu olhar inteligente, tem pinceladas de mel
Numa doçura que sempre me leva ao céu.
Tua face, de pele dourada que me assanha
Ao sentir o sombreado da barba que arranha.
Tua boca de lábios firmes a abrir-se de desejo
E teu hálito de menta que convida ao beijo.
Teu pescoço que nunca está em dolencia
Num peito de poucos pêlos e muita ardencia.
Tuas mãos cariciantes e braços de perdição
Envolvendo-me em languidez e rendição.
Tuas pernas de andar firme e suave gingado
E teus pés, limpos, belos e bem cuidados.
Finalmente, amo o teu centro que me alucina
E queima-me inteira se te aproximas.
-Helena Frontini-
Versos ao léu...
Meus versos proliferam como pragas
Pelo mato rasteiro do teu jardim.
O devaneio tateando um instante real
Como se existisses fora de mim.
Meus olhos fulguram em fogo e lava
Lavrando na mente a figura ideal
Vives na imaginação como a poesia
Desnudada em meu ardente folhetim
Fonte esfuziante jorrando fantasia
Caindo em teu silencio sem fim.
-Helena Frontini-
Predestinados
Perdemos nossa mocidade em caminhos distantes
Sem saber que existias e sem saberes de mim.
Nossa felicidade era plácida e um pouco hesitante
Recoberta pela poeira acetinada do esplim.
Esta melancolia doce de quem aceita e se aninha
Ao rotineiro que adormece anseio e fantasia.
Nossa história num repente tramou nova linha
Como um sol ardente rompendo o novo dia.
Não nos encontramos muito tarde ou fora de hora
Nossa chegança foi perfeita e predestinada.
Todos os descaminhos juntaram-se neste agora
Onde sonhos vão se abrindo como flores raras.
-Helena Frontini-
Olhos vermelhos
O amor encontrou-me de olhos abrasados
Lágrimas plasmadas em sentimentos falidos.
Deu-me seu fascínio de misterioso aparato
Adoçou meu corpo com seus frutos proibidos
Lavou-me a dor numa enxurrada de beijos.
O amor veio bebendo as águas do meu pranto
Anunciou sua beleza sem alarde e sem espelhos
Sua graça elevou-me ao poder do seu encanto
E nunca mais meus olhos ficaram vermelhos.
-Helena Frontini-
Carpe diem
O azul do céu é puro como um cristal.
Nuvens pinceladas escorrendo na tela...
Abençoado artista de concepção tão bela
Com seus dons de maestria divinal.
A clara manhã nasce de parto natural
Gerada pelo criador de todas as esferas.
Como criança ergue os braços e espera
Seja bem vindo um novo dia especial.
-Helena Frontini-
Contrassenso...
O homem olha a terra e pisa com cuidado entre troncos ressequidos e queimados.
Ontem a verdura luxuriante e benéfica e hoje a profusão de árvores esqueléticas.
Estes campos por tantas vezes fecundados perderam-se no abandono improvisado.
Uma carreta veio com entulho e tralha e muitas outras no processo vil e canalha.
Formaram-se ilhas de perene combustão, detritos e dejetos desfeitos em podridão.
Olha para os céus e clama por caridade pelo descaso de quem governa esta cidade.
Vira as costas e arremessa seu cigarro no chão avivando ainda mais o fogo do lixão!
-Helena Frontini-
Por amar-te...
Colhi flores por entre a relva ainda molhada
Água da fonte e mel de laranja perfumado
Para alegrar-te, meu rei coroado...
Debulhei o milho e confeitei roscas douradas
Trouxe do pomar frutos recem maturados
Para ofertar-te, meu poeta encantado...
Refinei minha voz ao timbre das musas aladas
Adocei meus lábios com açúcar perolado
Para acordar-te, meu bem amado...
-Helena Frontini-
In memoriam
Suave como a chuva que revigora a plantação
Derramam os olhos suas águas de bondade.
Pranto vertido sem os laivos da aflição
Borrifam ternamente as flores da saudade.
A querencia que agora habita outra paisagem
Abraça minh' alma num constante regozijar.
A felicidade que carrego na bagagem
Faz-me rir, mesmo se os olhos estão a chorar.
-Helena Frontini-
Cavaleiro andante
Venha depressa meu principe sorrateiro
Armado de esperanças como escudo.
Não te detenhas ante a densa covardia
Dos liames que aprisionam tua amada
E reverberam num apelo mudo.
Tua presença será bem vinda como o dia
Que põe fim às noites mal amadas.
O amor que trazes na espada destemida
Guarda o valor que sagrou-te cavaleiro
Em busca da donzela prometida.
-Helena Frontini-
Discrição...
Teu amor é segredo que preservo com paixão
Longe dos olhares trespassantes e afiados
E do jugo abusado das linguas sibilinas.
Teu amor é cantado ao vento e ao abismo
Ao mar profundo e ao céu estrelado
Aos bichos que calam e às flores das campinas.
A natureza conhece e acolhe meu sigilo
E nem o eco revela o que trago guardado
A sete chaves em meu coração.
-Helena Frontini-
Inevitável...
Quando meus cabelos caem sobre teu peito
São pequenos sóis irradiando meu desejo.
Tuas mãos envolvem as mechas de tal jeito
Até as bocas juntarem-se num arquejo.
Tudo desvanece e o ar torna-se rarefeito
No veludo cariciante do nosso enlevo.
O prazer jorra de nós, quente e perfeito
E morremos por instantes, neste beijo.
-Helena Frontini-
Amo
Amo e este amor preenche os espaços
Eleva-me em direção da estrela brilhante
Que flameja e aquece meu coração.
Amo e este amor recobre de doçura
As pedras áridas da estrada vertiginosa
Que encobriam toda e qualquer emoção.
Amo e este amor desata o fio emaranhado
Abre uma senda de segurança prazerosa
Livrando-me a alma da densa prisão.
-Helena Frontini-
Hora certa
Eis aquí o amor rescendendo a fruto maduro
Pronto a ser colhido em seu tempo de maturação.
Sinta sua mão pousada no pomo dourado
E morda a fruta doce enquanto é sumarenta.
Não demore na colheita pois o tempo é ligeiro
Frutos maduros deterioram num repente
E não sobrevivem em tua hesitação.
-Helena Frontini-
Desalento
A saudade viceja no peito em tormento
Descompassa o coração triste e enlutado.
Vem para o meu abraço que te chama
Minha boca sequiosa por teu beijo...
Em vão espalho teu nome ao vento
Só o silencio responde ao meu lamento
Gritando insistente em meu ouvido:
_Fecha teu corpo a este amor enterrado
Não te gastes em ecos do antigo apego
Ou na aridez desse teu pranto.
Fixo a mente na voz controladora
Minha razão tentando soprar alento...
Respondo roucamente: Não me atrevo!
Esquecer é perder o sonho
E não ter esperanças, dói tanto...
-Helena Frontini-
Alvorecer
A aurora reveste-se de tons cariciantes.
No lusco-fusco cintila o orvalho seu gotejar
Acordam as flores em cores e formosura
À espera dos esporos prestes a levitar.
A natureza boceja, trêmula e cintilante
Entre os tênues riscos de um céu de prataria.
Cerra os olhos a grande noite escura
Para a manhã que acende um novo dia.
-Helena Frontini-
Convivência
Sou de pouca conversa e de muita fantasia
Gosto do meu canto e me apráz a poesia.
És esfuziante como um grito de carnaval
Deixar-te quieto é como deter um vendaval.
Somos díspares em nosso mundo de contrastes
Mas, entre nós a paixão flameja e arde...
Em nosso leito de amores somos tal e qual:
Vento e calmaria transformada em temporal.
-Helena Frontini-
Consagrados...
Teu corpo esguio envolto em languidez
Essencia de anjo contida em meus braços.
Resgatam em mim o juízo e a lucidez
Na extrema ternura do amor divinizado.
Adormece o profano e sua louca cupidez
Na querencia volátil do ser amado.
Amantes abençoados libertos da avidez
Derramam flores no altar sagrado.
-Helena Frontini-
Natal de todo dia...
Natal, festa do Amor e da Natividade
Quando os corações enchem-se de luz
Festejando com alegria e fraternidade
A vinda de nosso irmão amado, Jesus
Todo ano ele nasce em nosso interior
Desejando ser parte de nossa história.
Não só no dia dedicado ao seu louvor
Mas, eternamente para nossa glória.
Que este não seja só mais um dia
Em que festejamos seu nascimento
Sua luz Divina, que do alto se irradia
Não deve finar-se no esquecimento.
O irmão que nossa alma acaricia
Nos quer a todo momento.
-Helena Frontini-
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