quarta-feira, 8 de dezembro de 2010


Rasante


Os ouvidos apurados escutam o timbre fino
dos seres alados e fantásticos.
Chamam meu nome, aceito seus encantos
Tentando-me com seus contos de fadas.
Ouso me elevar, dispo a roupagem
Fascinada por seus chamados.


Os pés traem o desejo, limitam a vontade...
Fito os olhos no céu em aflição
À espera que me nasçam penas ou asas
Que me elevem do chão.


-Helena Frontini-

Segredos


Conta-me teu desejo, aquele que mora
nos redutos permitidos da imaginação.
Desvenda em meu colo de amante súplice
teu sonho reprimido e sem vazão.
Meu braço segurará tua cabeça amada
Minha boca selará nosso segredo cúmplice
Nascido da paixão que nos devora.


-Helena Frontini-


Estrela mãe


Brilha o sol detrás das nuvens como moeda luminosa
Vem tímido como se pedisse licença para entrar
Na casa que lhe pertence e à qual faz jus.


Sinta-se à vontade minha estrela quente e cariciosa
Sem tua presença a noite gelada iria se eternizar
Seríamos toupeiras cegas em busca de luz.


-Helena Frontini-

Ilusão


Tirastes de mim a flor rubra sem espinhos
Iludida por teu instante de paixão.

Há pétalas de rosas caidas pelo caminho
Vais distraido sem olhar para o chão.

Nem imaginas que a flor do meu carinho
Morreu despetalada por tua mão.


-Helena Frontini-

sábado, 14 de agosto de 2010


Recomeçar


Lancei ancoras neste porto remoto.
O velho barco aportado em tantos lugares
Reconhece o lar quando piso este chão.
Um chão que nunca pisei e me acolhe...
Meu destino guiou-me e troxe-me inglória
Ao desígnio que me foi postergado.
Aceito calada este primeiro passo temeroso
Minha vida afogou-se em outros mares
Permito-me hoje uma nova história.


-Helena Frontini-

Purificação


Hoje o dia amanheceu em gris
Cinza demolidora de jaça encardida
Esfumaça e ameaça da chuva cair.
Então que desabe logo toda esta água
Ensope a cabeça e o corpo bandido
Lave minh'alma até ficar lustrosa.


Não quero chuva fininha e medida.
Preciso tempestade e alagação
Para arrefecer a sanha que me devora.
Meus demonios devem ser contidos
Afogados na inundação.


-Helena Frontini-

terça-feira, 10 de agosto de 2010


Sutilmente


Teu amor chega manso como garoa fina.
Molha de leve e aos poucos se apossa
De meu corpo de sedes e desertos.

Tua chuva crescente torna-se torrencial
Invade sem licença todos os espaços
Alagando fendas, grutas e grotas

Até inundar-me neste mundo molhado
Afogada em teu temporal.


-Helena Frontini-

Verdade imaginária


Perdido nos escaninhos de meu passado
Resguardado num canto da saudade atroz
Dorme o teu recado escrito às pressas:
Volto logo...E nunca mais escutei tua voz.
Não sei se partistes sem fazer alarde
Ou repousas num céu idealizado.


Vejo-te como um anjo de asas abertas
Que em sonhos volta a ser meu ideal.
Prefiro pensar que és morto e enterrado
A crer numa fuga mentirosa e covarde.
Tenho medo de saber a verdade
E assim, imagino-te irreal.


-Helena Frontini-

Bondade


Pequena e frágil vive nas pedras uma flor.
Sua doçura contamina a dureza em volta
O mel escorrendo da corola aberta.
Um milagre que sobreviva desprotegida
À merce de ventos, frio e calor...


Assim, como certas almas abençoadas
Presente celeste trazido por anjos.
Mesmo em meio às condições adversas
Onde os corações são como pedra,
Sorriem e só espalham amor.


-Helena Frontini-

Estátuas


Quando sentamos na sala sem nada dizer
Paira um silencio agoniado entre nós.
Há muito os silencios falam mais que as bocas
Mais que as palavras presas na garganta.


Em algum momento haveremos de nos soltar
E os demonios serão cuspidos pela sala
Apesar de os olhos que não mais se olham
Falarem tudo o que as vozes calam.


-Helena Frontini-

Monotonia


Esta mesmice está me pondo louca.
Quero a ousadia de sair da casca dourada
Quando as portas escancaram-se todas.
Há um mundo lá fora repleto de voos livres
De folhas e flores que o vento carrega
Depositadas em qualquer chão.
Há bolhas coloridas dançando no ar.
Há poças de chuva para enfiar meus pés
Fases da lua que vem e que vão.
Magias pequeninas que deixo escapar...


Acabei por desaprender o uso da liberdade
Escondida no cotidiano sempre igual
Gastei-me toda no ramerrão
Da vida que avança, descansa, avança,
Cansa...


-Helena Frontini-

terça-feira, 3 de agosto de 2010


Teus olhos não são azuis...


Nosso amor tem a cor da serenidade
Benfazejo como olhar de criança
Livre da falsidade que lhe é estranha.
Todos os azuis espalham-se neste querer
Reluzindo em doçura e confiança.


Teus olhos não são azuis, são cor de avelã.
O azul vem da luz que emana de teu ser
Irradiado de tua aura de bondade.
Céu perolado que em mim se entranha
Fluindo no tom ameno da felicidade
Puro como o nascer da manhã.


-Helena Frontini-

segunda-feira, 2 de agosto de 2010



Dedicatória


Quando eu me for parte de mim ficará
Impregnada no perfume acre da poesia.
Meus poemas que por vezes foram veneno
E tantas vezes acalentaram teu desejo
Todos os momentos retidos em alegorias
Ricas de todos os meus humores.


Lembra-te de meus versos mais amenos
Afastados da angustia e da desilusão
Nem todos são imagens de dor ou adeus.
Fique com os de alegria, amor e paixão
Estes sim, são presentes meu.


-Helena Frontini-

Sonhos...


Nuvens que se desmancham e se ajuntam
Brancas e dispersas, pairando ao léu...
Quem dera tivesse asas que me elevassem
E olhos que descortinassem estes véus.
Chegaria à montanha por trás das alturas
Onde está o grande amor a me esperar
Numa casinha pintada de alvuras
Amparando meu sonho caido do céu
Para fazer deste chão nosso lar.


-Helena Frontini-

sábado, 31 de julho de 2010


Única certeza


Não sei se as sementes que o vento carrega
No ventre prolífero e farto irão germinar...


Não sei se os esporos levados pos seres alados
Caídos em terra de promissão irão vicejar...


Minha única certeza é o sentimento fértil
De profundas raízes no solo de nossa paixão.


-Helena Frontini-

Reencontro


O que almejava, procurei por tempos sem fim.
Fui do céu ao inferno na busca desejada.
Do alto da montanha às profundezas estelares
Do deserto indigesto ao mais perfeito jardim.


Aos deuses clamei prostrada em seus altares
Implorei aos homens um tanto de lucidez
Não houve clemencia de terras, mares e ares
Tempo gasto em promessas e prodígios.


Depois de temores, desencantos, insensatez
Surge minha luz norteando a estrada:
Descobri dentro da alma o ponto de equilibrio
A serenidade que é parte de mim.


-Helena Frontini-

Indecisão


Entendo a loucura de querer ser pássaro e poder voar
Abrindo as asas largas e fazer ninho em teu coração


Entendo a lucidez rigorosa triste inimiga da imaginação
Desfazendo o encantamento que tento encontrar


Enquanto reviro-me neste impasse entre partir ou ficar
Toda vontade fica retida num surto de indecisão.


-Helena Frontini-


Personagem


Sou atriz neste palco que pertence a mim
Repito as falas repassadas em tantos ensaios
Nesta peça onde tudo é sempre igual.
Em cada cena a perfeição vai num crescente
Incorporando a personagem que escolhi,
Perco-me para renascer outra... mais uma vez.


Último ato e a platéia aplaude em euforia
Minha representação com o cunho magistral
Da tragédia que desenrolou-se inteira.
Arrasto o corpo cansado e as roupas suadas,
Arranco num átimo a máscara que aprendi
E volto a ser eu mesma, no camarim.


-Helena Frontini-

Preciosa...


Teu amor me faz brejeira
Doce como mel tirado da colmeia
Suave como som de violão.
Pura como banho de cachoeira
Formosa como flor de azaleia
Leve como floco de algodão.
Forte como planta de ribanceira
Livre como ave d'arribação.


-Helena Frontini-

quinta-feira, 29 de julho de 2010



Vento enamorado


Eolo brinca de ser meu namorado
Arrepia meu cabelo e fecha meus olhos.
Passa sua lixa arenosa na suave pele nua
Levanta minha saia e beija minha boca
Num despudor de garoto safado.
Pulsa o vento brejeiro e apaixonado
Gemendo com sua voz rouca.


Empurra o mar para afagos nas ancas
Atrevida marola lambendo as coxas
Ao comando do deus da impulsão.
Fujo arredia do ardor abusado
Antes que me leve despida e tonta
Em seu ventre ladrão.


-Helena Frontini-

sexta-feira, 23 de julho de 2010


Primeiro amor


Guardo tua memória esmaecida numa arca
Junto ao diário confidente e bonecas de louça.
Papéis de cartas, selos de meu pai, flores secas
Poemas romanticos e mil coisas de valor,
Embalados em meu apreço puro e sentimental.
O ar não ocupa espaço e tudo é preservado
Minhas lembranças e sonhos de menina...


Tua foto, a relíquia de meu querer adolescente
Doce enlevo, sem meandros, sem final.
Nunca o beijo ou as mãos dadas, apenas os olhos
Consentindo tudo, silenciosamente.
Outros céus chamaram-te e fostes docilmente...
Em minha arca guardo tesouros preciosos
Dentre eles, meu primeiro amor.


-Helena Frontini-


Bem vindo...


Podes pedir abrigo em meu coração quando quiseres
Portas e janelas ficam abertas para o sol e o luar.


Meu amor dar-te-á guarida e acalanto quando vieres
Nem precisas bater...É só entrar.


-Helena Frontini-

Medidas contidas


Meu corpo é detido por amarras de contenção
Mas, o sonho é barco solto em mares de tentação.


Meu corpo é tolhido por um limite que o reduz
Mas, o sonho ultrapassa o espaço em busca da luz.


Meu corpo é rendido por uma realidade fugaz
Mas, o sonho vai mais alto do que o corpo é capaz.


-Helena Frontini-

quinta-feira, 22 de julho de 2010


Êxtase


Acordei molhada, a roupa no corpo grudada.
Uma nuvem toldando o sonho fecundo
Já que o encanto esvanece ao ser acordado.
Sonhei contigo e contigo não me vejo casta...
Ainda estou em teus braços num laço profundo
Sinto a paixão de tuas mãos em meus seios
A doçura dos beijos e afagos estonteados
Os corpos em fogo e enleios.


Um sonho quase pleno, quase êxtase total
Mas a consciencia impõe seu limite velado.
Sonhar contigo já não me basta,
Preciso que seja real.


-Helena Frontini-

terça-feira, 20 de julho de 2010


Tons da paixão


Teus olhos de poeta dão vida ao quase nada.
Preenchem de tons saidos de teu pendor onírico
A tela branca que desmaia ao ver-se engalanada
Pelo ardor que dá vida, pulsação e colorido.


Teu olhar reveste minha imagem de tantas cores
Timbres de rosa, vermelhos ardidos e carmim
Quadro perfeito pintado numa paleta de amores
Deste poeta que colore sua paixão por mim.


Rendo-me ao tom que me dás atrevidamente,
Nuances variadas de decoro ou malícia
Quando vais dando cor ao meu corpo quente
Obra de arte de tua graça e lascívia.


-Helena Frontini-

Navegar é preciso...


Sigo neste barco, parco de salva-vidas
No rio sinuoso de pedras e montes.
Medíocre nadadora no eqilíbrio precário
De águas à espreita da força falhar.


Mãos no leme, olhos postos no horizonte
Lá vou eu, navegadora imprecisa
Com o destemor de quem precisa navegar
Descobrindo um mar além deste rio
E mundos além deste mar.


-Helena Frontini-

Cupido


Encarapitado numa árvore, florida e copada
Finge dormir um garoto cheio de artimanhas.
Um olho fechado, o outro sempre vigilante
Em busca dos corações desavisados.
Seu prazer consiste em provocar o ardor
Com a magia do veneno doce e inclemente
Mescla de dor e ternura exaltada.


Todo aquele que for atingido por sua sanha
Tudo entenderá ou quedará, inocente
Como indefeso recém nascido.
Ninguém escapa à sua flecha enfeitiçada
Ou fica imune ao seu riso de alegria
Que menino atrevido é o amor!


-Helena Frontini-

Amizade


Amigo é a presença que meu coração acaricia
Nas hora boas ou nas viradas da maré..
Longe ou perto, sua lembrança é companhia
Acariciante como um sopro de Fé.


Amizade brota no chão de qualquer pessoa
Como semente rara de direção certeira.
Há que cultivar este sentimento em terra boa
Pois seus frutos duram uma vida inteira.


Agradeço sua existencia em minha jornada
Bálsamo suave se a alma ri ou chora...
A luz de sua presença clareia minha estrada
Centelha de amor que do peito aflora.


-Helena Frontini-

Incógnito


Quisera desnudar teu nome em um poema
Teu nome de poeta com todas as letras.
Deixar que a verdade escrita em fonemas
Devasse mundos além deste chão.


Quisera gritar teu nome se a poesia some
Resguardada à sombra da nostalgia.
Avivar o fogo intenso que espera insone
Teu ser gravado no centro da inspiração.


Quisera revelar teu nome de modo definido
Oculto no emaranhado que te agracia.
Para que meu verso seja leve e destemido
Rimado na poesia desta paixão.


-Helena Frontini-

Inexplicável


Palavras são incapazes de definir
O amor que enternece alma e coração.
Nem mesmo a poesia de mil encantos
Ou a música de sons e tons elaborados
Reproduzem as nuances do sentir.


Amor é feito de fio gerado no cosmos
E da melodia sublime das esferas.
Tecido nos teares divinais...
Indefinido como sonhos e anjos
Indecifrável como a própria criação.


-Helena Frontini-

sexta-feira, 16 de julho de 2010


Vazio


Minha poesia esta coisa bandida feita de traves
Retida em versos de rimas escusas e aflitas
Quebra-se em pedaços quando assiste o erro
De ver-se tolhida por laivos de banalidade.
O breu encobre o céu estrelado e a deusa branca,
Somem estrelas com suas arestas pontiagudas
E mentirosas, sem ponta alguma.

Adoto um ar descontraído e blasé
Rondando o atrevimento de palavras andarilhas
Retiradas do poço fundo de minha limitação:
Pobres como os que mendigam na rua
Sombreadas como noites sem lua.


-Helena Frontini-

terça-feira, 13 de julho de 2010


Mágoas...


Não quero mais estes olhos molhados
Nem criar desculpas para o choro velado:
Areia, um cisco, o vento...Mentiras!
Quero de volta a lucidez que me roubastes
E meu sossego desfeito em tiras.


Meus silencios são caóticos e enervantes
Tua figura assomando em cada canto.
Chegas à revelia de modo desconexo
Germinando mágoas à todo instante
Florindo meu desencanto.


Não quero mais o choro secreto
Nem gastar-me neste jogo sem valor
Minando minhas águas neste pranto.
Nunca merecestes meus afetos
Muito menos minha dor.


-Helena Frontini-

Flor de mel...


Se uma gota de teu mel pousasse em minha boca
Meus lábios seriam doces como néctar de flor.

Teria que correr gritando até ficar rouca
De abelhas confusas, querendo sugar teu sabor.

Arrisco tudo por teu gosto que me deixa louca
Então, beija-me logo, doce amor!


-Helena Frontini-

Reencontro


O que almejava, procurei por tempos sem fim.
Fui do céu ao inferno na busca desejada.
Do alto da montanha às profundezas estelares
Do deserto indigesto ao mais perfeito jardim.


Aos deuses clamei prostrada em seus altares
Implorei aos homens um tanto de lucidez
Não houve clemencia de terras, mares e ares
Tempo gasto em promessas e prodígios.


Depois de temores, desencantos, insensatez
Surge minha luz norteando a estrada:
Descobri dentro da alma o ponto de equilibrio
A serenidade que é parte de mim.


-Helena Frontini-

Sons noturnos


Na casa ao lado, lamenta-se um violino
Canção dolente acalentando a noite
As notas prolongadas na escuridão.


Em nosso leito, estremece uma sinfonia
Sons retumbantes acordando a noite
Nosso amor consumido em exaustão.


-Helena Frontini-

Magia


Nosso amor faz deste outono a eterna primavera.
Esqueçamos o inverno que bate à nossa porta
O instante feliz é presente e não admite esperas
Flores desabrochadas junto às folhas mortas.


Florescemos no calor ardente deste amor maduro
Distanciado do poente triste que nos fazia sós.
Deixemos que o inverno sorrateiro e obscuro
Seja de quem não se ama, como nós.


-Helena Frontini-

Inexplicável


Palavras são incapazes de definir
O amor que enternece alma e coração.
Nem mesmo a poesia de mil encantos
Ou a música de sons e tons elaborados
Reproduzem as nuances do sentir.

O amor é feito do pó tirado das estrelas
E da melodia emanada das esferas.
Tecido nos teares divinais...
Indefinido como os sonhos e os anjos
Indecifrável como a própria criação.


-Helena Frontini-

Tirania


Sempre fostes orgulhoso e altivo
Dono de verdades e conceitos particulares.
Até mesmo no amor, inconstante e lascivo
Movido por marés como todos os mares.


Tua palavra, única lei a ser obedecida
Empunhava-a como arma de sujeição.
Regras e normas numa rotina estabelecida
Até que me encolhesse de frustração.


Afinal dei um basta a esta tirania
Escapei de tua atração que me fascinava.
Escravos também têm sua hora de rebeldia
E partem como aves atordoadas.


-Helena Frontini-

quinta-feira, 8 de julho de 2010


Quixotesco


Vens com tua armadura de cavaleiro
Sonhos de combates e grandezas.
Trazes a lança em riste, longa e feroz
Buscando a amada encastelada.


Leal cavaleiro de trovas e valentias
Flechando o alvo de suas certezas.
Não deixes o real retirar-te a espada
Nesta monotonia definitiva e atrós
Pondo fim às tuas fantasias.


-Helena Frontini-

quarta-feira, 7 de julho de 2010



Um beijo teu...


Um beijo teu no breu escuro da madrugada
De improviso, despudorado, atordoante.
Na parede nua, no beco, no sigilo da arcada
A paixão lambendo cada poro ardente
Revigorada no proibido que nos consente
Temente ao mundo que nos separa.


Um beijo teu no imprevisto predeterminado
Rememora o fogo roubado dos céus.
Colam-se as bocas em gemidos alucinados
Corpos unidos ao desejo que se declara.
Desabrocham flores no ardor desse instante
E a nossos pés escorrem rios de mel.


-Helena Frontini-

terça-feira, 6 de julho de 2010


Fluir...


Não se importe se o mundo come tua poesia
Decapitando a inspiração numa ceifada.
O que consome neste momento de nostalgia
Logo estará em seu tempo de jornada.


Indiferenças despedem-se no rio caudaloso
Que segue sem pudores na rota traçada.
Guardar rancor é dominar um rio poderoso
Numa barreira que tem sorte selada.


Não se importe com o eterno fluir das águas
É natural que escorram para o mar.
Amanhã nem te lembrarás destas mágoas
Que tentaram te afogar.


-Helena Frontini-

A hora do lobo


Traiçoeiros são os pensamentos na madrugada
Quando o sono se perde à luz da lua.

Tenho receio do lobo que vem nas horas tardias
Faminto em busca da presa desavisada.

Seus dentes afiados mordendo planos e anseios
Levando para sua toca os sonhos incautos.

Muitos sonhos ficam escondidos na hora do lobo
E temem retornar quando chega o dia.

Depois a claridade vem exorcisando a escuridão
Bendito sol que carrega o medo embora.


-Helena Frontini-

quarta-feira, 30 de junho de 2010


Verdadeiro amor...


Na ansia incontida de amar e ser amada
Atrevi-me por caminhos desconhecidos
Nem sempre planos e por vezes tortuosos.
Provei o mel, o sal e o amargo
Na ponta da lingua, na garganta travada
Nos gostos que o desejo permitiu.
Tantos voos suicidas e amores vãos...


Eis que um dia, sem planos e sem relutar
Surgiu voce, que deteve minha descida
Desorientada nos sargaços em combustão.
Deu-me asas contidas de pássaro caseiro
Um ninho macio a embalar meu corpo
E portas abertas para eu poder partir...
Liberdade é querer ficar.


-Helena Frontini-

terça-feira, 29 de junho de 2010


Magia e realidade


Belas são as princesas dos contos de fadas
Sonhadoras e agraciadas de ouro e bordados.
Mesmo sofredoras nas florestas encantadas
Mesmo contidas por feitiços e maus fados


Seus pesares não desmancham as cabeleiras.
Os olhos chorosos não mostram vermelhidão
As mãos de borralho são alvas e altaneiras
E os andrajos não escondem a perfeição.


Não sou princesa do olhos doces e langorosos
Minhas dores são plenamente visualizadas.
Se me esfalfo em rixas e choros lamentosos
Pareço a bruxa da maçã envenenada.


Belas são as princesas dos contos de fadas
Onde a fantasia olha a feiura com desagrado.
O real desmonta esta magia numa ceifada
Pobre do meu principe encantado!


-Helena Frontini-

quarta-feira, 23 de junho de 2010



Alegoria


O amor deu-me vestes etéreas, como nunca tive igual
Coloridas com as nuances das rosas entre abertas
Exalando perfumes durante o amanhecer.

O amor mudou meus anseios, meus gestos e atitudes
Elevou meus olhos muito além do que eu conhecia
Deu-me asas para que eu conseguisse voar.

O amor ensinou-me seus segredos sagrados e oníricos
Fez de minh'alma repositório de sua enorme riqueza
Jarro santo, relicário, altar de merecimento.

O amor deu-me virtudes, crença, beleza e sabedoria
Brilho nos olhos, faces rosadas e poesia sem fim
Deu-me coragem, alegria, desejo de mudar...

O amor deu-me tudo, sem nada pedir de mim.


-Helena Frontini-

Noites de outono


Chove lá fora, uma chuva miúda e outonal
Um frio úmido no céu escuro e nublado.
O vento ardido quer penetrar pelas frestas
Mas, a lareira acesa em seu fogo natural
Faz o ambiente íntimo e amoroso.


Ao fundo uma música lenta e sentimental
Duas taças de cristal e vinho tinto delicioso.
Tapetes macios espalhados no cháo
E meu amor enrodilhado em meus braços
Como um gato preguiçoso.


-Helena Frontini-

quarta-feira, 16 de junho de 2010


Será?


Quando me olhas, recaio num silencio de estupor.
As palavras adormecem na garganta travada.
A face empalidece, as mãos transpiram geladas.


Fico a mira-te mesmerizada num falso pudor...
Pernas bambas e um tremor que nada alivia
Sininhos nos ouvidos e estrelas à luz do dia...


Meu Deus! Será que isso é amor?


-Helena Frontini-

terça-feira, 15 de junho de 2010


Provisório...


Teu amor,por vezes é como um país estrangeiro
Indecifrável idioma que só tu desvendas
Resvalando minha mente em perplexidade.
Às vezes,caminho neste amor por ruas estranhas
Assomam caras, frases, mãos, veleidades...
Tudo me desconhece e nada reconheço.


Quem dera não te fosses por becos e tangentes
E tudo em nós falasse a linguagem universal
Que mesmo sem voz se faz entender.
Quem dera me acolhesses em teu ser itinerante
E não fosses pária em busca de emoção,
Hóspede no país de meu querer.


-Helena Frontini-

Gran Finale


Foram-se embora amigos e amores
Sem que eu saiba o porque do abandono.
Dei o melhor de mim e só tive dissabores
Sou rainha entregando seu trono.

Não deveria ter me tornado poeta
Criado invejas e rejeitos que nem pensei
Minha vida era tão boa,segura e certa
Hoje pairo no limbo que eu mesma criei.

Porque não me contive no ostracismo?
Ninguem sabia de mim,nem mesmo eu.
Revelar-me só resultou no niilismo
De minha imagem que se perdeu.

Onde os amigos sinceros, impolutos?
Perderam-se diluidos na poesia
E a mim,resta-me o poder absoluto
De por fim a esta tola fantasia.


-Helena Frontini-

Noite e dia


Meu dia, meu ardente raio de sol
Razão de meu despertar...


Minha noite, meu doce raio de luar
Razão de meu sonhar...


-Helena Frontini-