quinta-feira, 21 de julho de 2011


Magia


Se teu choro verte silencioso
Recolhido como se fosse vergonhoso
Minha alma lapidará o cristal
Desta lágrima que te faz tanto mal.


Meu amor há de secar teu pranto
Desfazendo dor e desencanto.
Cada gota transmutada em alegria
Será sal deixado pela maresia.


-Helena Frontini-


À revelia...


Em meus sonhos adejam suspiros e frêmitos
De amantes misteriosos e desconhecidos
Abrasando minha pele na noite vazia...
Dançam na sombra, suas vontades ardentes
Mãos esvoaçantes de ávidas mariposas
Atrevendo-se no calor que delas se irradia.


Por um momento a mente queda, extasiada
Ao sentir a pujança ardorosa de mim ausente
Que por um tempo queimou-me o ventre.
Depois a lembrança amarga, chega à revelia
Prende-se em minha carne amargurada
Matando os sons evocados na fantasia.


-Helena Frontini-

Canção de ninar...


A noite possui uma música especial
Um acalanto de suave diapasão.


Durma embalado pelo som celestial
E deixe que o sono renove seu coração.


-Helena Frontini-

Insegurança


Preciso ir embora, revalidar meu intento.
A cada dia dou um passo além e me detenho.
A corda que me prende, estica resistente
Decidida a reter tal empenho.


Meu movimento desfaz os nós à revelia.
Um fio tênue inibe o próximo passo
E amanhã serei livre, talvez...
Poderia ser hoje, mas estagno na covardia
De me atrever por tantos espaços
E perder-me de vez.


-Helena Frontini-


Como sempre...


Quando escuto teus passos no corredor
Teus pés despidos, que reconheço
Seguem a direção traçada pelo amor.
Meu corpo contrai-se e estremeço
Por querer-te com doçura e despudor.


Quando teu vulto assoma num repente
Pelo quarto de penumbras e abrigo
Os olhos encontram-se exigentes
Enquanto os corpos são desvestidos
A paixão irrompe, como sempre...


-Helena frontini-

Um toque de classe...


A gentileza é flor cativante
Que agrada aos olhos e ao coração.
Não retribui este presente
Quem desconhece a boa educação.


Flor delicada que se ressente
Ante a indiferença e a ingratidão.
Seja gentil com toda gente
E saboreie os frutos desta emoção.


-Helena Frontini-

terça-feira, 24 de maio de 2011


Tua presença...


Chegastes numa manhã triste e enevoada
Trazendo a luz que teu olhar irradia.
Gritou meu nome, aos brados, na estrada
E foram sinos anunciando um novo dia.


Entrou em minha vida como um pé de vento
Desses, que vão tirando tudo do lugar.
Levou para longe minhas culpas e lamentos
Sobrando no peito, espaço para amar.


A doçura do teu abraço, abraçou meu mundo
Colorindo o deserto que me confundia.
Não me abandones, nem por um segundo!
Razão e emoção que me dá valia...


-Helena Frontini-

Encantamento...


A felicidade entrou em minha casa
Sem alarde, veio fazer-me companhia.
Trouxe na bagagem apenas o amor
Que iluminou todos os espaços
Vibrante como o sol que se anuncia.


Vou enfeitar de flores nossos dias
Coroados de magias inusitadas.
E pedir-lhe que fique ao meu lado
Dedilhando em mim hinos de louvor
No timbre doce de sua alegria.


-Helena Frontini-

quinta-feira, 19 de maio de 2011


Renovação


Vou cuidar melhor da minha vida
De meus afetos, de meus sentimentos.
Uma magia toldou-me a consciencia
Encantamento que me fez entorpecida
Desatenta aos preceitos do amor.


Meus bens são preciosos em demasia
Para serem trocados por ilusão
Como emoções desprovidas de valor.
Venha Luz, inebriar-me de alento
Renovando a paz de meu coração.


-Helena Frontini-

Bodas de prata


Com emoção comemoramos nossas bodas de prata
Vinte e cinco anos do sonho que sempre quisemos.
Laços sublimes repletos de bençãos e graças
Que hoje, contritamente à Deus, agradecemos.


Sempre unidos nos esmeramos na caminhada
Enquanto o tempo ia ligeiro sem o percebermos.
Os altos e baixos que surgiram na jornada
Nos tornaram cúmplices no pacto que fizemos.


A vida nos quis eternamente de mãos dadas
Com o mesmo amor de quando nos conhecemos.
Hoje, derramam-se dos céus, luzes prateadas
Abençoando os anos felizes que já vivemos.


-Helena Frontini-

quarta-feira, 18 de maio de 2011


A hora certa...


É noite, outra noite insone a me envolver
Pergunto à minh'alma solenemente atenta
Qual a hora certa em que virá o esquecimento.
Será que vem num ímpeto esvaziando o peito
como um balão estourado por mão caridosa
Ou vem devagar como um rio que mansamente
Corre entre as pedras miúdas do meu tempo?


A noite segue seu itinerário sem perceber
Que em mim tudo está singularmente diferente.
Exaurido do sonho diário que não mais aflora.
Só eu sinto a dor que se avoluma e se enrosca
E pousa a cabeça em teu travesseiro.
Qual a hora certa em que virá o esquecimento?
Não sei e não há quem possa me dizer.


-Helena Frontini-

A chegada


Hoje não é apenas mais um dia
Desses que lembram cinza sem graça.
A felicidade veio me fazer companhia
Colorindo a manhã de ouro e prata.


O amor chegou trazendo a alvorada
Acordou-me com a música do seu riso.
Deixou portas e janelas escancaradas
Apaixonado e um pouco sem juizo


No jardim colheu flores em braçadas
Acendeu o sol da harmonia bendita
Em seu coração me fez aconchegada
Súdita e rainha em sua vida.


-Helena Frontini-

Terminal


Hoje quando penso em ti são vestígios
Rastros de teus passos, restos e resquícios.
Aquele amor ardente repousa em negrume
Indefinível flor que mal exala perfume.


A tua ausencia não queima, nem perfura
Deixou de ser instrumento de tortura.
Minha dor aquietou-se à tua sombra
E na sombra ficou, adormecida e tonta.


Como uma mariposa de asas queimadas
Pela chama que outrora viu-se encandeada.
Não te esqueci, mas guardo-te sem aflição
Um sonho a mais perdido no coração.


-Helena Frontini-

Laços eternos


Eu te amo com um amor antigo
Quando me trazias atada a um cordão.
Era tua a comida que repartias comigo
Pelo tempo que durou a gestação.

Eu te amo no primeiro choro uivante
Onde, num hausto abriu-se um clarão.
Tuas mãos temerosas e exitantes
Acalmando os medos com mansidão.

Eu te amo desde que me destes o seio
Túrgidos no ardor da amamentação.
Os braços quentes de amparo e esteio
Olhar amoroso velando com atenção.

Eu te amo antes de nascer, mãe querida
Antes do momento da concepção.
Fui destinada a ser parte de tua vida
Pelo Sagrado que anunciou nossa união.


-Helena Frontini-


Tu vais saber...


Quero escrever-te palavras que não costumo
Deixar que bailem em meus versos tortos
Tirá-las maduras do casulo soturno
Onde repousam em meu silencio absorto.


Quero envolver-te numa poesia verdadeira
Aquela, que amantes revigoram-se ao ler.
As emoções incandescentes setas certeiras
Que atinjam o âmago do teu ser.


Quero encantar-te com um amor poetisado
Sem meios-termos, à ponto de extravasar.
Não direi teu nome, pois que me é sagrado
Mas, tu vais entender e talvez, chorar...


-Helena Frontini-

A primeira vez...


Trago sempre comigo, certo sonho pueril
Aquele que em algumas tardes mornas
Agitava, qual vento doce a paz de meu coração.
O garoto que me olhava de soslaio pelo gradil
E deixava bilhetinhos na carteira da escola
Com desenhos e palavras coloridas de emoção.
Achando que seu anonimato fosse esconder
O nome de quem me amou a primeira vez.


Eu, em minha infantilidade repleta de pudor
Nada entendia do amor, uma flor ainda em botão
Sentia vergonha por estar assim, enamorada
E escondia a afeição que ameaçava florescer.
A insegurança deixou em suspenso a terna ilusão
E o silencio desarmou e afastou nosso querer.
Até hoje relembro este sentimento encantador
Meu saudoso ritual amoroso de iniciação.


-Helena Frontini-

Mãos de artista...

Tuas mãos possuem a arte eloquente
De um escultor que a tudo se atreve
Um dedilhar afinado e irreverente
Se em minha pele o cinzel, descreves.

Adejam quais borboletas flamejantes
Nos esporos entreabertos ao teu visgo.
Esvoaçam por sobre grutas e montes
Atrevidamente, provocando-me o riso

És pintor aspergindo tintas cambiantes
Que colorem meu corpo de emoção.
Pinceladas aleatórias na tela fremente
Maestria sensual de tuas mãos.

-Helena Frontini-

Procurado...


Onde o amor que juravas a todo momento?
Perdeu-se de nós como o dia que adormece
Indo acordar do outro lado do mundo.
Caminho errante à procura de tuas palavras
Que ainda fazem vibrar meu sentimento.


Se ao menos o eco as devolvesse.Mas, não...
O amor que me tinhas, some, desvanece
Como gota misturada ao mar profundo.
Esconde-se débil em todos os quartos e salas
E talvez, encontre-o morto no porão.


-Helena Frontini-

terça-feira, 12 de abril de 2011


Teu nome verdadeiro...


Por qual nome chamarei o meu amado
Quando a ausencia for inquietante
Tão muda quanto um relógio parado?

Ei-nos herméticos nos desencontros
Encostados num muro intolerante
Onde as pedras nos ferem o lombo.

Rostos assumem máscaras estáticas
Escondendo mentes intransigentes
Alheias à nossa dor sorumbática.

Não me olhem com olhos estrangeiros
Nem me prendam ao chão inexistente
Pois meus pés caminham ligeiros

Para o sentimento que me dará louvor.
Ao encontrar-te, trêmula e exultante
Chamar-te -ei: Amor...Amor...


-Helena Frontini-

De agora em diante...


Hoje, eu vou ficar em paz
Recarregar minhas energias
Sendo feliz ao meu lado.
Hoje, eu não vou me criticar
Por não ser o que eu queria
Nem fazer mais do que posso
Sendo maior do que sou.


Hoje, eu vou me amar
E me acreditar forte e bela
Porque hoje é um novo dia
Perfeito para recomeçar.
O agora, enfim me espera
Sem nostalgia...


-Helena Frontini-

segunda-feira, 4 de abril de 2011


Tempo roubado


Tenho que partir, pois faz-se tarde, meu amado.
Nossos momentos são do tempo, roubados
E a manhã já reflete-se em nosso leito irizado.


Vou, mas deixo todo o sonho que tenho a ofertar
A emoção do meu amor que nunca vai terminar
E a paixão do meu corpo que deseja ficar.


-Helena Frontini-

Na calada da noite...


Habitas em meus sonhos, como um falcão
Cujas garras misteriosas cavaram um ninho
Envoltas nas cobertas de minha emoção.
Tua coroa real, permanece intacta e bela
O cetro encostado num canto a esperar
Tua vinda, na calada da noite, ávido ladrão.


Meu corpo é como os montes que revoas
Quando o sono adormece a realidade
Tua presença ornamenta o leito de arminho
Um rei requestrando suas propriedades
Ajaezado de brilhos e imaginação...
Nos amamos e o eco da música reverbera
Na manhã que não deveria acordar.


-Helena Frontini-

quinta-feira, 31 de março de 2011


Amor perfeito...Perfeito amor...

Outros mares...


Tua pele traz o sal e o sol de tantos mares
Olhos gastos na visão de terras distantes
À procura da baía tranquila e almejada
Que o espírito aventureiro quis encontrar
Em rotas solitárias e desgastantes.


Quando ancorastes, rente ao meu cais
De longe avistei o farol que te exorcizava.
No poente desmaiando em ouro e lilás
Rendeu-se ao amor que em vão procuravas
E hoje és marujo desbravando meu mar.


-Helena Frontini-

Enquanto a música durar...


A música embala baixinho em tom gutural
Meu corpo moldado no vazio das esperas.
A vida derrama-se de meu ventre letal
Revolvendo fantasias e quimeras.


Chegue perto e sinta o eco de meu coração
Célere, com o vigor de quem vai embora,
Escapar do peito, deste peito sem emoção
Onde tudo mofa, adormece, embolora...


Hoje, esta lenta canção me acompanha
Ardendo na alma sua tristeza sem fim.
Olhos semi cerrados, como quem sonha
Que o mundo inteiro chora por mim.


-Helena Frontini

Eu te amo


Eu te amo, sussurro em teu ouvido
E as palavras tornam-se úmidas de apelos
Num abandono que estremece os sentidos
Quando nos enlaçamos ébrios de desejos.


Eu te amo, sussurras em meu ouvido
E as palavras tornam-se soltas em cativeiro
Como pássaros, pelo prazer rendidos
Ao amor que liberta o corpo inteiro.


-Helena Frontini-

O olhar de quem ama...


Teus olhos pousam sobre mim
Desvendando os poros e os sentidos
No eterno ritual do amor.
Em meio ao caos que me contagia
Reverberam como sóis incandescentes
Dissipando covardia e desvalor
Guardiões leais do real e da fantasia.


Teus olhos pousam dentro de mim
Denodando beatitude e abrigo
Como altares de reverente contrição.
Espelhos refletindo tua alma na minha
Juntos, na antessala da emoção.
O olhar de quem ama é abrangente:
Enxerga corpo, alma e coração.


-Helena Frontini-

Quase tarde...


Nunca encontrei-te, mas sinto que te perdi.
O tempo desfolha as pétalas de todas as flores
Não detem as águas que esfarelam as pedras
Ou o mar que arrasta-se terra afora.


Como encontrar-te se o destino não nos quis
Atados às mesmas dores e a iguais amores?
É quase inverno e quase murcha a erva
Que sob meus pés frios, descolora.


-Helena Frontini-

Feiticeiro


Prenda-me ao teu destino aventureiro
Leva-me em teu rumo que desvenda horizontes.
Vou ousar minha roupa de pirata ou marinheiro
Postar-me altaneira sobre a ponte
Em busca da terra prometida de leite e mel
Lá, onde ajuntam-se águas e céus.


Entrego-me inteira nas mãos deste temerário
Que faz-me beber a juventude de sua fonte.
Nosso sonho contido neste barco precário
Mas, dentro dele é a paixão que nos consome
Na maciez do leito recoberto de dossel
Singramos os sete mares ao léu.


-Helena Frontini-

Onde habitam os medos


Conheço uma rua gasta de pedras tortas
A casinha no final da rua é velha e tôsca
Pintura azul lascada com cheiro de podridão.
Todos os espelhos partidos, as cortinas rôtas
Proliferam vermes na matéria morta.

Tantas vezes me detive nesta escuridão...
Alí onde o medo dá flores e desabrocha
Nesta rua feia, chamada solidão.


-Helena Frontini-

Venha a nós, o circo!


Admiro o circo que monta e desmonta seus espaços...
Sua trupe de mágicos, trapezistas,domadores de leão
Bailarinas, equilibristas, unidos no constante estardalhaço
Em suas tendas e picadeiros ornamentados de emoção.


Adoro antes de tudo a doce puerilidade do palhaço
Qua alegra toda gente sem a minima distinção.
Que venha o circo em surdina ou com espalhafato
E nos faça sonhar em seu mundo de ilusão.


-Helena Frontini-

27 de Março...Dia do circo!

Bonde vermelho


Aperto as mãos no balaústre enquanto o bonde
De minha infância me faz viajar ao passado.
Sobre os trilhos o vagão segue barulhentamente
Janelas guilhotinas e porta que se desdobram
pachorrentamente em cada estação.
Descortino a paisagem das árvores verdejantes
E a frescura do ar que não provou poluição.
Do banco duro leio os reclames coloridos
De produtos quase em extinção...


O bairro mudou. Cresceu para cima e para os lados
Eu cresci, mas não para os lados...Graças a Deus!
Não existem mais bondes em minha história
A não ser em museus onde desfilam em exposição.
O bonde vermelho e o tilintar do sino afinado
Percorrem os caminhos que foram meus.
Seu estridente balouçar são parte da memória
E rodam nos trilhos antigos do meu coração.


-Helena Frontini-

Jasmineiro


Flor da noite, flor da noite
Leva teu perfume até o leito desfeito
Onde repousa o amor distante de mim.
Cobre-o de beijos e diz-lhe em segredo
Que o esperarei por noites sem fim
Até que venha atraído por meu desejo
Irresistível como flor de jasmim.


-Helena Frontini-

Pollyanna


Por vezes tento ser como a doce Pollyanna
Aquela do filme fazendo o jogo do contente.
As palavras ficam amargando na garganta
Querendo atirar-se como flechas ardentes.
E se a voz sai velada por suave manta
Os olhos afogam-se na mágoa fremente.


Como continuar este jogo que desencanta
Quando ardo por soltar esta torrente?
Ela que fique no cinema como santa
Eu viro a mesa se me fazem descontente.


-Helena Frontini-

Cisne negro


Sempre fui diferente dos demais
A vida, uma esteira de luzes brilhantes
Onde os pés pousavam suavemente.
A diferença estava em minhas asas
Que elevavam-me além dos mortais.
Nunca o medo de cair desastradamente
Do orgulho de ser assim, endeusada.


Um dia as asas fraquejaram letais
Os pés deixaram de ser esvoaçantes
Cabendo a outra meu dom flamejante.
A fama soprou suas últimas brasas
No cerrar de cortinas dos acordes finais.
A vaidade cobrou seu preço justamente
Fazendo do voo, a queda anunciada.


-Helena Frontini-

No céu...


Há dias em que as nuvens são meu chão
E a alegria de viver chega fazendo escarcéu.


O amor abre as portas do meu coração
E minha felicidade dá suas piruetas no céu.


-Helena Frontini-

Amor amigo...


Por muito tempo amei a todos e a ninguém
Sem licença atrevi-me em aventuras escusas
Vicejando meu desencanto por ruas escuras
Sob olhares compassivos ou de desdém.


Perdi-me em labirintos e caminhos deletérios
Entre monstros que habitavam meus espaços...
Deixe que eu repouse a cabeça em teu regaço
A febre me consome e tua mão é refrigério.


Nunca acreditei no conforto da amizade
Mas, teu amor tirou-me do abismo profundo
Com imensa ternura revalidou meu mundo
E em teus braços encontrei a serenidade.


-Helena Frontini-

terça-feira, 22 de março de 2011


Espinhoso


Colhi flores para ofertar ao meu amado
Dexei-as cair a seus pés em adoração.

Indiferente que és, olhou-as com enfado
Romantismo é o que falta em nossa emoção.

Da próxima vez virei com urzes e cactos
Quem sabe assim acerto seu coração.


-Helena Frontini-

Sem pressa...


A manhã tira-me de seus braços, assustada
Tanto a fazer e eu totalmente atrasada!
Rumo à cozinha e me atraco com as panelas
Sequer olhando a paisagem na janela.


Ele chega amoroso com o olhar apaixonado
Abre a porta e mostra-me o céu perolado
Onde o sol acomoda-se como em doce ninho.
Faz-me ouvir a cantoria dos passarinhos


E a deliciosa frescura do vento acariciante
Beijando o dia com ternura de amante.
Abraçadinhos, vamos para a rede namorar
O café não tem pressa...Pode esperar.


-Helena Frontini-

Fastio


Estou numa fase avara, de longos silencios.
As palavras saem engolidas e provisórias
E se as digo é porque se faz necessário
Um mínimo de comunicação e sensatez.


Desculpem, mas estou em fastio profundo!
Quando atingir o fundo do poço punitório
Onde prende-se a raiz deste meu cansaço
Prometo que volto a falar outra vez...


-Helena Frontini-

Vigília


De olhos abertos na fria noite outonal
Estremece entre o medo e a esperança
Que remetem a uma saudade abissal.
A doce aragem refresca o rosto abrasado
Onde a insônia viceja em fantasias.
O silencio profundo e o passar das horas
Consomem o tempo e a confiança.


Cintilam as lágrimas como rios prateados
Enquanto a noite escorre mundo afora.
Abraça o travesseiro e a insana lembrança
Do amado longe de sua cama vazia.


-Helena Frontini-

Castidade


Tens a alvura das flores da laranjeira
Perfume exalado de noivas virginais.
Teu porte de fidalga altaneira
Num corpo de desejos angelicais.


Meu verso descompassa em teu olhar
Transparente e puro como cristal.
Quer haurir o que prometes sem falar
Mas, emudece ante teu vulto de vestal


A chama sagrada que mantens acesa
Arde em minha poesia de forma velada
Tu, que és detentora de toda a realeza
Dá-me o céu sem dar-me nada.


-Helena Frontini-

Terra amada


Gosto da terra, revirar, plantar, adubar.
Sentir a vitalidade da polpa macia
Entre tatuzinhos, minhocas e caramujos.
Penso ter o dedo verde como o do menino
Que a um toque, tudo brotava e crescia.


Amo o perfume das malvas e dos gerânios
Acre cheiro de folhas que grudam nas mãos.
Hibiscos e rosas convivem com hortênsias
Entre samambaias e dentes de leão.
Orquídeas são as preferidas de meus mimos
Atadas na palmeira adoçam meu olhar.


Gosto da terra e sentir meus dedos sujos
Nma catarse invertida de prazer.
Com certeza ela corresponde ao meu querer
Dando-me cores e flores em profusão.


-Helena Frontini-

Gran Finale


Foram-se embora amigos e amores
Sem que eu saiba o porque do abandono.
Dei o melhor de mim e só tive dissabores
Sou rainha entregando seu trono.

Não deveria ter me tornado poeta
Criado invejas e rejeitos que nem pensei
Minha vida era tão boa, segura e certa
Hoje pairo no limbo que eu mesma criei.

Porque não me contive no ostracismo?
Ninguem sabia de mim,nem mesmo eu.
Revelar-me só resultou no niilismo
De minha imagem que se perdeu.

Onde os amigos sinceros, impolutos?
Perderam-se diluidos na poesia.
E a mim, resta-me o poder absoluto
De por fim a esta tola fantasia.


-Helena Frontini-

Mais que perfeito...


Amo cada pedacinho de teu corpo adorado
Teu cabelo curto e generosamente grisalho
Teu olhar inteligente, tem pinceladas de mel
Numa doçura que sempre me leva ao céu.


Tua face, de pele dourada que me assanha
Ao sentir o sombreado da barba que arranha.
Tua boca de lábios firmes a abrir-se de desejo
E teu hálito de menta que convida ao beijo.


Teu pescoço que nunca está em dolencia
Num peito de poucos pêlos e muita ardencia.
Tuas mãos cariciantes e braços de perdição
Envolvendo-me em languidez e rendição.


Tuas pernas de andar firme e suave gingado
E teus pés, limpos, belos e bem cuidados.
Finalmente, amo o teu centro que me alucina
E queima-me inteira se te aproximas.


-Helena Frontini-

Aconchego


Abra os teus braços como asas
Que eu quero me aconchegar.
Teu ninho porejado de pragas
Rescende a palha seca e rançoza
Desfaz-se ao vento daninho
Levando em rodopio teu lar.

Fica comigo e te darei carinho
Frescor e um suave manto de rosas
Para juntos, outro ninho formar


-Helena Frontini-


Doces sonhos...


Que o veludo da noite
Cubra-te com seu manto estrelado...


-Helena Frontini-

Final


Aperto esta emoção em meus braços
Ela e eu de olhos duramente fechados.

Meu calor cobre-a de vida, indevida
Até que a razão escandalosamente grita:

Deixe enterrar-se o que morto está!
Abro os olhos e permito que vá...


-Helena Frontini-

Versos ao léu...


Meus versos proliferam como pragas
Pelo mato rasteiro do teu jardim.
O devaneio tateando um instante real
Como se existisses fora de mim.
Meus olhos fulguram em fogo e lava
Lavrando na mente a figura ideal


Vives na imaginação como a poesia
Desnudada em meu ardente folhetim
Fonte esfuziante jorrando fantasia
Caindo em teu silencio sem fim.


-Helena Frontini-

Predestinados


Perdemos nossa mocidade em caminhos distantes
Sem saber que existias e sem saberes de mim.
Nossa felicidade era plácida e um pouco hesitante
Recoberta pela poeira acetinada do esplim.


Esta melancolia doce de quem aceita e se aninha
Ao rotineiro que adormece anseio e fantasia.
Nossa história num repente tramou nova linha
Como um sol ardente rompendo o novo dia.


Não nos encontramos muito tarde ou fora de hora
Nossa chegança foi perfeita e predestinada.
Todos os descaminhos juntaram-se neste agora
Onde sonhos vão se abrindo como flores raras.


-Helena Frontini-