sábado, 14 de agosto de 2010


Recomeçar


Lancei ancoras neste porto remoto.
O velho barco aportado em tantos lugares
Reconhece o lar quando piso este chão.
Um chão que nunca pisei e me acolhe...
Meu destino guiou-me e troxe-me inglória
Ao desígnio que me foi postergado.
Aceito calada este primeiro passo temeroso
Minha vida afogou-se em outros mares
Permito-me hoje uma nova história.


-Helena Frontini-

Purificação


Hoje o dia amanheceu em gris
Cinza demolidora de jaça encardida
Esfumaça e ameaça da chuva cair.
Então que desabe logo toda esta água
Ensope a cabeça e o corpo bandido
Lave minh'alma até ficar lustrosa.


Não quero chuva fininha e medida.
Preciso tempestade e alagação
Para arrefecer a sanha que me devora.
Meus demonios devem ser contidos
Afogados na inundação.


-Helena Frontini-

terça-feira, 10 de agosto de 2010


Sutilmente


Teu amor chega manso como garoa fina.
Molha de leve e aos poucos se apossa
De meu corpo de sedes e desertos.

Tua chuva crescente torna-se torrencial
Invade sem licença todos os espaços
Alagando fendas, grutas e grotas

Até inundar-me neste mundo molhado
Afogada em teu temporal.


-Helena Frontini-

Verdade imaginária


Perdido nos escaninhos de meu passado
Resguardado num canto da saudade atroz
Dorme o teu recado escrito às pressas:
Volto logo...E nunca mais escutei tua voz.
Não sei se partistes sem fazer alarde
Ou repousas num céu idealizado.


Vejo-te como um anjo de asas abertas
Que em sonhos volta a ser meu ideal.
Prefiro pensar que és morto e enterrado
A crer numa fuga mentirosa e covarde.
Tenho medo de saber a verdade
E assim, imagino-te irreal.


-Helena Frontini-

Bondade


Pequena e frágil vive nas pedras uma flor.
Sua doçura contamina a dureza em volta
O mel escorrendo da corola aberta.
Um milagre que sobreviva desprotegida
À merce de ventos, frio e calor...


Assim, como certas almas abençoadas
Presente celeste trazido por anjos.
Mesmo em meio às condições adversas
Onde os corações são como pedra,
Sorriem e só espalham amor.


-Helena Frontini-

Estátuas


Quando sentamos na sala sem nada dizer
Paira um silencio agoniado entre nós.
Há muito os silencios falam mais que as bocas
Mais que as palavras presas na garganta.


Em algum momento haveremos de nos soltar
E os demonios serão cuspidos pela sala
Apesar de os olhos que não mais se olham
Falarem tudo o que as vozes calam.


-Helena Frontini-

Monotonia


Esta mesmice está me pondo louca.
Quero a ousadia de sair da casca dourada
Quando as portas escancaram-se todas.
Há um mundo lá fora repleto de voos livres
De folhas e flores que o vento carrega
Depositadas em qualquer chão.
Há bolhas coloridas dançando no ar.
Há poças de chuva para enfiar meus pés
Fases da lua que vem e que vão.
Magias pequeninas que deixo escapar...


Acabei por desaprender o uso da liberdade
Escondida no cotidiano sempre igual
Gastei-me toda no ramerrão
Da vida que avança, descansa, avança,
Cansa...


-Helena Frontini-

terça-feira, 3 de agosto de 2010


Teus olhos não são azuis...


Nosso amor tem a cor da serenidade
Benfazejo como olhar de criança
Livre da falsidade que lhe é estranha.
Todos os azuis espalham-se neste querer
Reluzindo em doçura e confiança.


Teus olhos não são azuis, são cor de avelã.
O azul vem da luz que emana de teu ser
Irradiado de tua aura de bondade.
Céu perolado que em mim se entranha
Fluindo no tom ameno da felicidade
Puro como o nascer da manhã.


-Helena Frontini-

segunda-feira, 2 de agosto de 2010



Dedicatória


Quando eu me for parte de mim ficará
Impregnada no perfume acre da poesia.
Meus poemas que por vezes foram veneno
E tantas vezes acalentaram teu desejo
Todos os momentos retidos em alegorias
Ricas de todos os meus humores.


Lembra-te de meus versos mais amenos
Afastados da angustia e da desilusão
Nem todos são imagens de dor ou adeus.
Fique com os de alegria, amor e paixão
Estes sim, são presentes meu.


-Helena Frontini-

Sonhos...


Nuvens que se desmancham e se ajuntam
Brancas e dispersas, pairando ao léu...
Quem dera tivesse asas que me elevassem
E olhos que descortinassem estes véus.
Chegaria à montanha por trás das alturas
Onde está o grande amor a me esperar
Numa casinha pintada de alvuras
Amparando meu sonho caido do céu
Para fazer deste chão nosso lar.


-Helena Frontini-