terça-feira, 25 de maio de 2010
Onde habitam os medos
Conheço uma rua torta de pedras gastas.
A casinha no final da rua é velha e tôsca
Pintura azul lascada com cheiro de solidão.
Todos os espelhos partidos,as cortinas rôtas
Proliferam vermes na madeira podre.
Tantas vezes me detive nesta escuridão...
Os medos habitam este canto abandonado
Nesta rua chamada pesadelo.
-Helena Frontini-
Pele em flor
Gravei nossas iniciais no tronco de um chorão
Do meu tamanho, novo e pequeno como eu.
Amor infantil, meio sério, meio brincadeira
Repleto de ternura e hormônios em ebulição.
Sem saber se somos namorados ou amigos,
Nossa pele em flor à flor da pele...
O tempo seguiu e nosso rumo se perdeu
No torvelinho que engole sonhos antigos.
Vez em quando vejo o chorão, agora grisalho
Olhos adultos em busca da recordação:
Duas letras pequeninas unidas nas alturas
Presas dentro do inocente coração.
-Helena Frontini-
sábado, 22 de maio de 2010
Ao que vai chegar
Cara amiga não te negues a ser amada.
Teu medo antigo forjado na desilusão
Deve ser extirpado qual erva sem valor.
Abra as defesas e vista um sorriso lindo.
Tuas sementes vão ser germinadas
Na terra fértil que escondes com afinco.
O sol enfeitou de sons e cores, a estrada
Que vai direto à porta de teu coração...
Na soleira, aguarda o amor.
-Helena Frontini-
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Pira ardente
Teu corpo incendiou o meu num fogo urgente
Faíscas detonaram o estopim adormecido
Vibrando os sentidos em perfeita combustão.
Foi fácil me envolver. Jogar-me na pira ardente
Não notando a labareda dolorosa que crescia
Jorrando de dentro para fora, tenso vulcão.
Como fogo na palha, consumida em seu tempo
Inerte o brilho, extinto o que chamei eterno,
Apaga-se a chama em decepção.
-Helena Frontini-
terça-feira, 18 de maio de 2010
Gota-d'água
Sou de boa paz apesar de invejas que criei
Por este meu jeito desabrido de pensar.
Caras fechadas são constantes e acostumei
A deixar de lado o que me afronta.
Acho-me tola em aceitar calada e não revidar
Injustiças que me trazem de bandeja.
Vou levando com mansuetude e bom humor
Riso amarelo e fazendo-me de sonsa.
Mansa por fora e por dentro uma tigresa.
Não permitam que eu perca o bom humor
E que o riso fácil se desfaça em esgar.
Sou perigosa se fico descontrolada
Dou o trôco a quem comigo se indispor
E ainda dou risada.
-Helena Frontini-
segunda-feira, 17 de maio de 2010
sábado, 15 de maio de 2010
Até o fim
Esperarei por ti, por todas as noites e dias, do princípio até o fim da última ilusão.
Aquí estarei como estátua mesmerizada, neste pedestal de tempo indefinido.
Esperarei por ti, mesmo que o mundo se alteie em terremotos e cismos inaturais.
Aquí estarei como lava quente e resfriada, pedra angular do que foi prometido.
Não sei se virás desfazer a dor que deixastes, pêndulo de esperanças irreais...
Esperarei por ti, por todas as noites e dias, até esvair-se a espera em sim ou não.
-Helena Frontini-
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Indiferença
O inimigo do amor espera na sombra
Indiferente, sem cara e caridade.
Esta faca afiada que corta profundo
Sangra na ferida em chaga
E desaparece sem deixar vestígio.
Pior que o ódio vestido de vermelho
E da raiva sua amiga constante,
É este olhar de quem não se importa
As mãos escondidas nas costas
Esta boca em riste, dura e calada.
Não venhas, indiferença, eu te peço.
Nada mata mais doído e fundo
Que tua presença.
-Helena Frontini-
quarta-feira, 12 de maio de 2010
O beijo
Quando me beijas sinto estranha emoção.
Um pulsar intenso na veia do pescoço
Os olhos tornam-se amortecidos e lesos
Os lábios, como flores de paixão.
Quando sussurras com esta voz rouca
Palavras atrevidas de desejos
Meu corpo desfalece em rendição...
Se o beijo é profundo e ardoroso
Teu amor fecunda todos os universos
E nascem estrelas no céu da boca.
-Helena Frontini-
terça-feira, 11 de maio de 2010
Recortes
O espelho partiu-se e quando me vejo assim,
São só pedaços, dispersos e modificados.
Um ser recortado ante meu olhar de espanto,
Alienígena invasor mirando do outro lado.
Suas dezenas de faces de muitas bocas e olhos
Trazendo angústia aos meus sentidos.
Escorrego as mãos pela nudez de meu corpo
E encontro-me inteira, intacta, completa...
Por alguns instantes pensei ter-me quebrado
Restando apenas facetas de mim.
-Helena Frontini-
sábado, 8 de maio de 2010
Clair de Lune
Desde tenra idade envolvi-me com a magia dos sons.
Anos de estudo gastando o instrumento e as mãos.
Entendo a música, sei ler notas, as comuns e as cifradas.
Conheço as escalas e as claves de fá e de sol.
Os compassos, a métrica e o solfejar.
Aprendi sobre bemóis e sustenidos, colcheias e mínimas,
Semínimas, fuzas, semifuzas e pontuação.
Reconheço um ritmo, seu tempo, sua melodia
Mas...não tenho o dom!
Possuo vontade e perseverança que deveriam bastar
Contudo, não encorporam o espirito musical
Apenas reverberam meu tédio.
Breve ou semibreve!
-Helena frontini-
sexta-feira, 7 de maio de 2010
A cor do amor
Meu coração é atraido por sua ternura
Como a abelha encanta-se pela flor.
Heliotrópio, almiscar, rosas, jasmim...
Seu carinho um perfume exótico e raro
De aroma sutil e embriagador.
Meu coração é rendido por sua doçura
Atos e afagos embalados em amor,
Néctar destilado de sua alma amorosa...
Perde o ritmo e a cor avermelhada
Pulsa feliz em cor de rosa.
-Helena Frontini-
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Uma certa mãe...
Era mulher tímida, vinda do interior.Veio para a cidade grande trazendo esperança,
acompanhada do marido,vendedor.Chegou embuchada do filho varão que não vingou.
Vida dura de sacrifícios e dores. Pouco dinheiro e trabalho de montão.
Nunca soube dizer palavras doces,mas os atos diziam o que a boca silenciava.
Vieram mais filhos e o tempo passou. Escrava do lar e do marido turrão.
Sem quem a ajudasse,logo se acabou. As rugas chegaram e os netos também.
Depois vieram as perdas inevitáveis: Marido,filhos,netos,amigos e parentes afins...
Acostumou-se a muito sofrimento e pouca alegria, mas este pouco lhe bastou.
Nunca se queixou do destino e da sorte.Sempre quieta,forte,simples,valente.
Parca de carinhos e vasta de amor.
-Helena Frontini-
Verso e reverso
Se eu digo pau, tu dizes pedra Se eu digo flor, tu dizes espinho.
Se eu digo nuvem, tu dizes chuva.
Sempre contrário nosso pensamento, eterna divergencia de opinião.
Mas, quando falamos de nós, não há erro, não!
Se eu digo meu, tu dizes minha. Se eu digo quero, tu dizes agora.
Se eu digo amor, tu dizes paixão.
-Helena Frontini-
terça-feira, 4 de maio de 2010
Plenos poderes
Meu querer é um fruto doce e desconhecido
Madurado na árvore de minha emoção.
Vejo sua cor flamejante encostada no céu
O sumo escorrendo de sua carne madura.
Queres, por minhas mãos ser colhido
Deixando o sabor delicado em minha boca
Tua polpa feita de sal e mel...
Estás alto, inacessível ao meu desejo
Num galho perigoso desta imensa gastura.
O temor não permite que venhas inteiro
Despencar em meus carinhos...
Busco asas que me elevem à sua altura.
Asas de anjos, fadas ou passarinhos
Rumo ao fruto desta paixão.
-Helena Frontini-
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Impotencia
Fique um pouco mais enquanto é dia ainda.
Nessa hora,minhas mãos são de guarida
E os olhos ardentes, faróis a te resguardar.
Não te vás antes que o dia escureça
Tenho medo da noite, como um poço sem fim
Em que cairás sem tempo de despedida
Quizera um sol eterno a te envolver e flores
Todas as que eu conseguir carregar,
Para que vicejes nestes braços impotentes
Neste instante,nesta hora,neste lugar.
Não te vás quando o breu gritar teu nome
Para levar-te tão longe de mim.
-Helena Frontini-
Sem inspiração
A poesia, às vezes some no espaço e no tempo
Tomando rumos alheios à minha vontade.
Incorpora um pássaro livre, destronado do lar
À cata de abstrações e temas renovados.
Pobre mente imaculada neste papel em branco
Borda caricaturas e borrões assustados.
Meu verso aguarda exitante e sem significado:
Nada crio, nada faço, a não ser esperar...
-Helena Frontini-
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