sábado, 31 de julho de 2010
Reencontro
O que almejava, procurei por tempos sem fim.
Fui do céu ao inferno na busca desejada.
Do alto da montanha às profundezas estelares
Do deserto indigesto ao mais perfeito jardim.
Aos deuses clamei prostrada em seus altares
Implorei aos homens um tanto de lucidez
Não houve clemencia de terras, mares e ares
Tempo gasto em promessas e prodígios.
Depois de temores, desencantos, insensatez
Surge minha luz norteando a estrada:
Descobri dentro da alma o ponto de equilibrio
A serenidade que é parte de mim.
-Helena Frontini-
Indecisão
Entendo a loucura de querer ser pássaro e poder voar
Abrindo as asas largas e fazer ninho em teu coração
Entendo a lucidez rigorosa triste inimiga da imaginação
Desfazendo o encantamento que tento encontrar
Enquanto reviro-me neste impasse entre partir ou ficar
Toda vontade fica retida num surto de indecisão.
-Helena Frontini-
Personagem
Sou atriz neste palco que pertence a mim
Repito as falas repassadas em tantos ensaios
Nesta peça onde tudo é sempre igual.
Em cada cena a perfeição vai num crescente
Incorporando a personagem que escolhi,
Perco-me para renascer outra... mais uma vez.
Último ato e a platéia aplaude em euforia
Minha representação com o cunho magistral
Da tragédia que desenrolou-se inteira.
Arrasto o corpo cansado e as roupas suadas,
Arranco num átimo a máscara que aprendi
E volto a ser eu mesma, no camarim.
-Helena Frontini-
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Vento enamorado
Eolo brinca de ser meu namorado
Arrepia meu cabelo e fecha meus olhos.
Passa sua lixa arenosa na suave pele nua
Levanta minha saia e beija minha boca
Num despudor de garoto safado.
Pulsa o vento brejeiro e apaixonado
Gemendo com sua voz rouca.
Empurra o mar para afagos nas ancas
Atrevida marola lambendo as coxas
Ao comando do deus da impulsão.
Fujo arredia do ardor abusado
Antes que me leve despida e tonta
Em seu ventre ladrão.
-Helena Frontini-
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Primeiro amor
Guardo tua memória esmaecida numa arca
Junto ao diário confidente e bonecas de louça.
Papéis de cartas, selos de meu pai, flores secas
Poemas romanticos e mil coisas de valor,
Embalados em meu apreço puro e sentimental.
O ar não ocupa espaço e tudo é preservado
Minhas lembranças e sonhos de menina...
Tua foto, a relíquia de meu querer adolescente
Doce enlevo, sem meandros, sem final.
Nunca o beijo ou as mãos dadas, apenas os olhos
Consentindo tudo, silenciosamente.
Outros céus chamaram-te e fostes docilmente...
Em minha arca guardo tesouros preciosos
Dentre eles, meu primeiro amor.
-Helena Frontini-
Medidas contidas
Meu corpo é detido por amarras de contenção
Mas, o sonho é barco solto em mares de tentação.
Meu corpo é tolhido por um limite que o reduz
Mas, o sonho ultrapassa o espaço em busca da luz.
Meu corpo é rendido por uma realidade fugaz
Mas, o sonho vai mais alto do que o corpo é capaz.
-Helena Frontini-
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Êxtase
Acordei molhada, a roupa no corpo grudada.
Uma nuvem toldando o sonho fecundo
Já que o encanto esvanece ao ser acordado.
Sonhei contigo e contigo não me vejo casta...
Ainda estou em teus braços num laço profundo
Sinto a paixão de tuas mãos em meus seios
A doçura dos beijos e afagos estonteados
Os corpos em fogo e enleios.
Um sonho quase pleno, quase êxtase total
Mas a consciencia impõe seu limite velado.
Sonhar contigo já não me basta,
Preciso que seja real.
-Helena Frontini-
terça-feira, 20 de julho de 2010
Tons da paixão
Teus olhos de poeta dão vida ao quase nada.
Preenchem de tons saidos de teu pendor onírico
A tela branca que desmaia ao ver-se engalanada
Pelo ardor que dá vida, pulsação e colorido.
Teu olhar reveste minha imagem de tantas cores
Timbres de rosa, vermelhos ardidos e carmim
Quadro perfeito pintado numa paleta de amores
Deste poeta que colore sua paixão por mim.
Rendo-me ao tom que me dás atrevidamente,
Nuances variadas de decoro ou malícia
Quando vais dando cor ao meu corpo quente
Obra de arte de tua graça e lascívia.
-Helena Frontini-
Navegar é preciso...
Sigo neste barco, parco de salva-vidas
No rio sinuoso de pedras e montes.
Medíocre nadadora no eqilíbrio precário
De águas à espreita da força falhar.
Mãos no leme, olhos postos no horizonte
Lá vou eu, navegadora imprecisa
Com o destemor de quem precisa navegar
Descobrindo um mar além deste rio
E mundos além deste mar.
-Helena Frontini-
Cupido
Encarapitado numa árvore, florida e copada
Finge dormir um garoto cheio de artimanhas.
Um olho fechado, o outro sempre vigilante
Em busca dos corações desavisados.
Seu prazer consiste em provocar o ardor
Com a magia do veneno doce e inclemente
Mescla de dor e ternura exaltada.
Todo aquele que for atingido por sua sanha
Tudo entenderá ou quedará, inocente
Como indefeso recém nascido.
Ninguém escapa à sua flecha enfeitiçada
Ou fica imune ao seu riso de alegria
Que menino atrevido é o amor!
-Helena Frontini-
Amizade
Amigo é a presença que meu coração acaricia
Nas hora boas ou nas viradas da maré..
Longe ou perto, sua lembrança é companhia
Acariciante como um sopro de Fé.
Amizade brota no chão de qualquer pessoa
Como semente rara de direção certeira.
Há que cultivar este sentimento em terra boa
Pois seus frutos duram uma vida inteira.
Agradeço sua existencia em minha jornada
Bálsamo suave se a alma ri ou chora...
A luz de sua presença clareia minha estrada
Centelha de amor que do peito aflora.
-Helena Frontini-
Incógnito
Quisera desnudar teu nome em um poema
Teu nome de poeta com todas as letras.
Deixar que a verdade escrita em fonemas
Devasse mundos além deste chão.
Quisera gritar teu nome se a poesia some
Resguardada à sombra da nostalgia.
Avivar o fogo intenso que espera insone
Teu ser gravado no centro da inspiração.
Quisera revelar teu nome de modo definido
Oculto no emaranhado que te agracia.
Para que meu verso seja leve e destemido
Rimado na poesia desta paixão.
-Helena Frontini-
Inexplicável
Palavras são incapazes de definir
O amor que enternece alma e coração.
Nem mesmo a poesia de mil encantos
Ou a música de sons e tons elaborados
Reproduzem as nuances do sentir.
Amor é feito de fio gerado no cosmos
E da melodia sublime das esferas.
Tecido nos teares divinais...
Indefinido como sonhos e anjos
Indecifrável como a própria criação.
-Helena Frontini-
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Vazio
Minha poesia esta coisa bandida feita de traves
Retida em versos de rimas escusas e aflitas
Quebra-se em pedaços quando assiste o erro
De ver-se tolhida por laivos de banalidade.
O breu encobre o céu estrelado e a deusa branca,
Somem estrelas com suas arestas pontiagudas
E mentirosas, sem ponta alguma.
Adoto um ar descontraído e blasé
Rondando o atrevimento de palavras andarilhas
Retiradas do poço fundo de minha limitação:
Pobres como os que mendigam na rua
Sombreadas como noites sem lua.
-Helena Frontini-
terça-feira, 13 de julho de 2010
Mágoas...
Não quero mais estes olhos molhados
Nem criar desculpas para o choro velado:
Areia, um cisco, o vento...Mentiras!
Quero de volta a lucidez que me roubastes
E meu sossego desfeito em tiras.
Meus silencios são caóticos e enervantes
Tua figura assomando em cada canto.
Chegas à revelia de modo desconexo
Germinando mágoas à todo instante
Florindo meu desencanto.
Não quero mais o choro secreto
Nem gastar-me neste jogo sem valor
Minando minhas águas neste pranto.
Nunca merecestes meus afetos
Muito menos minha dor.
-Helena Frontini-
Reencontro
O que almejava, procurei por tempos sem fim.
Fui do céu ao inferno na busca desejada.
Do alto da montanha às profundezas estelares
Do deserto indigesto ao mais perfeito jardim.
Aos deuses clamei prostrada em seus altares
Implorei aos homens um tanto de lucidez
Não houve clemencia de terras, mares e ares
Tempo gasto em promessas e prodígios.
Depois de temores, desencantos, insensatez
Surge minha luz norteando a estrada:
Descobri dentro da alma o ponto de equilibrio
A serenidade que é parte de mim.
-Helena Frontini-
Magia
Nosso amor faz deste outono a eterna primavera.
Esqueçamos o inverno que bate à nossa porta
O instante feliz é presente e não admite esperas
Flores desabrochadas junto às folhas mortas.
Florescemos no calor ardente deste amor maduro
Distanciado do poente triste que nos fazia sós.
Deixemos que o inverno sorrateiro e obscuro
Seja de quem não se ama, como nós.
-Helena Frontini-
Inexplicável
Palavras são incapazes de definir
O amor que enternece alma e coração.
Nem mesmo a poesia de mil encantos
Ou a música de sons e tons elaborados
Reproduzem as nuances do sentir.
O amor é feito do pó tirado das estrelas
E da melodia emanada das esferas.
Tecido nos teares divinais...
Indefinido como os sonhos e os anjos
Indecifrável como a própria criação.
-Helena Frontini-
Tirania
Sempre fostes orgulhoso e altivo
Dono de verdades e conceitos particulares.
Até mesmo no amor, inconstante e lascivo
Movido por marés como todos os mares.
Tua palavra, única lei a ser obedecida
Empunhava-a como arma de sujeição.
Regras e normas numa rotina estabelecida
Até que me encolhesse de frustração.
Afinal dei um basta a esta tirania
Escapei de tua atração que me fascinava.
Escravos também têm sua hora de rebeldia
E partem como aves atordoadas.
-Helena Frontini-
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Quixotesco
Vens com tua armadura de cavaleiro
Sonhos de combates e grandezas.
Trazes a lança em riste, longa e feroz
Buscando a amada encastelada.
Leal cavaleiro de trovas e valentias
Flechando o alvo de suas certezas.
Não deixes o real retirar-te a espada
Nesta monotonia definitiva e atrós
Pondo fim às tuas fantasias.
-Helena Frontini-
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Um beijo teu...
Um beijo teu no breu escuro da madrugada
De improviso, despudorado, atordoante.
Na parede nua, no beco, no sigilo da arcada
A paixão lambendo cada poro ardente
Revigorada no proibido que nos consente
Temente ao mundo que nos separa.
Um beijo teu no imprevisto predeterminado
Rememora o fogo roubado dos céus.
Colam-se as bocas em gemidos alucinados
Corpos unidos ao desejo que se declara.
Desabrocham flores no ardor desse instante
E a nossos pés escorrem rios de mel.
-Helena Frontini-
terça-feira, 6 de julho de 2010
Fluir...
Não se importe se o mundo come tua poesia
Decapitando a inspiração numa ceifada.
O que consome neste momento de nostalgia
Logo estará em seu tempo de jornada.
Indiferenças despedem-se no rio caudaloso
Que segue sem pudores na rota traçada.
Guardar rancor é dominar um rio poderoso
Numa barreira que tem sorte selada.
Não se importe com o eterno fluir das águas
É natural que escorram para o mar.
Amanhã nem te lembrarás destas mágoas
Que tentaram te afogar.
-Helena Frontini-
A hora do lobo
Traiçoeiros são os pensamentos na madrugada
Quando o sono se perde à luz da lua.
Tenho receio do lobo que vem nas horas tardias
Faminto em busca da presa desavisada.
Seus dentes afiados mordendo planos e anseios
Levando para sua toca os sonhos incautos.
Muitos sonhos ficam escondidos na hora do lobo
E temem retornar quando chega o dia.
Depois a claridade vem exorcisando a escuridão
Bendito sol que carrega o medo embora.
-Helena Frontini-
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