domingo, 28 de fevereiro de 2010


Tempo


Carrego o fardo de tua ausencia
Pesa em meus ombos e arde e dói
Uma ferida a cicatrizar lentamente.
Disfarço esta dor que chega à demencia
Finjo não sentir o ácido que corrói
O corpo a alma e a mente.


Mora em mim a certeza da superação.
Os dias de horrores terão seu final
E todas as portas serão escancaradas.
Nova flor brotará em meu chão.
Este momento anunciará o funeral
De tua presença enterrada.


-Helena Frontini-

Amor Outonal


Amor outonal é doce, alegre e mais elaborado
Suas flores estão levemente ressecadas
Mas,o perfume marcante é uma rosa completa.
A sensualidade adormecida se faz emoção
Envolvendo de maneira delicada e sutil.


O tempo conteve a paixão num vidro fechado
E deve ser aberto com cuidado e atenção.
Nada quer dar errado nesta descoberta
Corpos maduros semeando desejo primaveril
Sem medos ou pudores na nova estação.


-Helena Frontini-

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010


Toque de amor


Estranho poder de tuas mãos abençoadas
Remediam todas as dores represadas.

Desvendam segredos desta pele quente
Tuas mãos zelosas de carinho ardente.

Os óleos perfumados que unges em mim:
Almiscar selvagem, lavanda e alecrim

São ritos de purificação e bons presságios.
Tuas mãos valorosas de dedos sábios

Conhecem à fundo minha sensibilidade
E rendem-se à minha vontade.


-Helena Frontini-

Ditado popular


Quando fecho os olhos é que me sinto melhor.
A imaginação acaba sendo bem mais poderosa
Do que a verdade dessa vida que esfumaça.
Divagação de um amor eterno e sem barreiras
À salvo das brigas,silencios e conflitos...
Tantas dores nos consomem na vida pessoal
De olhos fechados,tudo se torna perfeito.
Distanciada do vazio da realidade que mata.

Meu lema é: "tapar o sol com a peneira"
Tolices de quem não quer ver!


-Helena Frontini-

Fruta predileta


Se tu fosses um pé de manga
Daquelas bem doces que soltam fiapos
Subiria até os teus mais altos galhos
E comeria todas sem culpa nenhuma.

Se tu fosses um pé de jabuticaba
Daquelas crioulas e bem avantajadas
Encostaria em teu tronco,minha escada
E me lambuzaria até ficar saciada.

Não és fruta nem árvore, meu amor!
A gastura desse mel mora em teu beijo
E no teu corpo de misterioso sabor.
Tu és a fruta que mais desejo.


-Helena Frontini-

Natural


Teu corpo tem cheiro de planta, de mato, de flor:

Capim limão, grama recém cortada, hortelã,

Cravina, tomilho, samambaia, jasmim...

Orvalhadas pela noite, exauridas de amor

Renascidas em vigor quando chega a manhã.

Amar-te é como viver num jardim.


-Helena Frontini-

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010


Gatinha manhosa


Quero ser tua gatinha ardente e dengosa
Ronronar em teu colo querendo afagos
Sorver os teus beijos em suaves miados
Encostar em teu corpo meu desejo animal.
Vem ser meu dono,meu amo e senhor
Me acarinhar de modo prudente e sensual
Com cuidado que sou arisca e tinhosa.
Sou seu bichinho precisado de amor.


-Helena Frontini-

Noite sem lua


No dia em que fostes embora,era noite.
Os escuros misturaram-se dentro de mim.
Tuas palavras suscintas doeram como açoite
Sangrando em meu corpo dores sem fim.

Eu desconfiava que de mim te afastarias
Tuas ações maquinais,a ausencia de paixão,
Apatia adormecendo o amor e a covardia
Indo na madrugada como vil ladrão.

Roubastes a fagulha que me fazia quente
Planos,anseios e meu crédulo coração.
Noites não mais trarão o êxtase ardente
E a lua será como assombração.


-Helena Frontini-

sábado, 20 de fevereiro de 2010


Amor,eterno amor...


Um barulho estridente me acorda.É o gato.
Todas as sete vidas resolveram se soltar
Em miados alucinados e atordoantes.
Engata um namoro com a felina do vizinho
Não há como ter paz na gritaria.
Descubro estalos da última festa Junina
E os atiro nos pestinhas,pela janela...


Silencio total. Acho que foram embora
Namorar em outra freguesia.
Olho de fininho e lá está o bichano
Arrastando a gatinha pelo cangote
Doce destino de todos os enamorados.
A miadeira infernal recomeça
E eu na janela, só e morta de inveja.


-Helena Frontini-

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010


Sem saída


Minha imagem às vezes,esvanece no limbo
Torna-se imprecisa como moeda gasta.
No espelho reflete-se a ausencia espectral
O medo, engolfa o grito mudo...Calo!


Uma voz indaga: Qual é o seu paradeiro
Vagando nesse breu triste e assustador?
Não respondo,pois a resposta maltrata:
Se me achasse,não iria me perder.


Atrevi-me no labirinto aquém de meu valor
Ariadne não atou seus fios a me proteger
Do monstro que se avizinha sorrateiro.
Dê-me areia e ouro que me salvo!


-Helena Frontini-

Amorosa


Teu amor é a parte mais encantadora de mim.
Por ele me cuido,pinto as unhas de vermelho
Cabelos cacheados, corpo delicado de serafim
Boca ao natural, ansiosa por teu beijo.


Corpo sedutor e flores no vestido decotado
Provoco-te insinuante para a cena roubar.
Tanto empenho para o momento desejado:
O instante em que irás me desnudar.


-Helena Frontini-

Por amor


Trago dentro do peito um amor escondido
Todo ternura,anseios e desejos represados.
Para o mundo revela-se um amor proibido
Contido na amargura de anéis enferrujados.

Há tempos meu caminho é de pudores
Receio da prepotencia e do falso moralismo
De quem julga e se ajoelha em louvores.
Meus demonios indecisos irão à exorcismo

Dizimados na busca dos sonhos possíveis
E esta vergonha considerada daninha,
No atrevimento das soluções cabíveis
Será de todos e não só minha.


-Helena Frontini-

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010


Mulher de fases


Moram em mim mulheres poderosas
Que comandam o cetro com poder aferro.

Moram em mim mulheres fervorosas
Que oram e choram cada vez que eu erro.

Moram em mim mulheres valorosas
Que olham a vida com destemor e esmero.

Moram em mim mulheres ardorosas
Que sucumbem à paixão quando eu quero.

Moram em mim mulheres silenciosas
Que consentem,e calam desejando o berro.

Todas unidas em minha alma generosa
Contidas por mãos de ferro.


-Helena Frontini-

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010


Solidão


Meu amado, foi-se perdido de mim
Silencioso, sem dar-me um adeus.
Minha alma doída tenta senil
Voar nestes céus a te procurar.


Impossível ter seu paradeiro
Distancia mortal e sem compaixão.
O coração de luto, compreende
Desarvorado, chora...chora...


Fantasio o milagre de te encontrar
E dar-te o abraço derradeiro.
Espera cega e inútil.


-Helena Frontini-

Pulsação


Meus desejos secretos são contidos
Habitam o cerne de um vulcão.
Esperam na lava incandescente
Rendidos às pedras e cinzas antigas
De tempos de dormencia.
Aguardam e um sismo se aproxima
Sinto o pulsar no centro macio.
Explodem em chamas vermelhas
Labaredas de paixão.


-Helena Frontini-

Nudez


O amor veio dando-me vestes de rainha
Arrancou todas as flores do jardim
Cobrindo-me de perfume e doce pólen.
Por momentos embalei este sonho irreal
Curta duração das fases da lua...


Nem reparei que a roupa não era minha
E o amor brincava de me querer.
Não iria durar, que as flores morrem
Quando tecidas numa roupa de mulher.
Foi-se o amor deixando-me nua.


-Helena Frontini-

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010


Ultimo páreo


O tempo é como um corcel desembestado
Deixando poeira enquanto corre fatal.
Meus dias se escoam em ritmo disparado
No galope acelerado da reta final.


Ontem era criança a voar pelos corredores
Repleta de risos, o futuro pela frente.
Criei um jardim,colhi amores e dissabores
Teci a trama e lançei minhas sementes.


Hoje giro desnorteada neste torvelinho.
Mal concluída minha empreitada
Chega o corcel atropelando meu caminho
Cascos afiados como uma espada.


-Helena Frontini-

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010


Anjo


Lancei-me na fonte de teus prazeres
E perdi-me de amores por ti.
Deve haver uma componente raro
Neste teu corpo claro de querubim.

Talvez o teu cheiro de fruta madura
Ou teu gosto lembrando sapoti.
Quero beber desta fonte milagrosa
Até minha sede ser saciada

E esta loucura que tem o teu nome
Jorre sempre dentro de mim.


-Helena Frontini-

Descompasso


Não sei se o tempo foi amigo gentil.
Não sei se os revezes fizeram-me melhor
Mais forte,segura e serena...
Não sei se a dor tornou-me mais humana
Ou o contrário de tudo isso...
Por vezes penso no passado e descubro
Que meu riso era mais fácil
Meu silencio não era de solidão
O cansaço um momento passageiro.


Não é fácil acompanhar esta mudança
Ser por ela engolida de roldão.
Trago cicatrizes no corpo e na alma
E sigo vivendo aos arrancos
Porque é precisa e imutável esta sorte.
Não sei se o tempo foi amigo gentil.
Não sei.


-Helena Frontini-

domingo, 7 de fevereiro de 2010


O dom de voar


Quero voar com voce nas asas da imaginação
Ver o mundo com olhos deslumbrados.
Aceitar este vento bondoso a nos envolver
E nos levar muito além deste chão.
O amor já nos deu seu recado:
Somos pássaros livres em nosso querer
Seres alados em total comunhão.


-Helena Frontini-

Sons noturnos


Na casa ao lado lamenta-se um violino
Canção dolente adormecendo a noite
Notas prolongadas à exaustão.


Nosso quarto estremece numa sinfonia
Sons retumbantes acordando a noite
Amor que consome em rendição.


-Helena Frontini-

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010


Chama apagada


Se um dia tua vida se encontrar com a minha
Não me olhes que teus olhos me trazem dores.
Fostes em meu caminho como a erva daninha
Que consome o jardim e mata todas as flores.


Achei que eras vinho,seleta colheita da vindima
Numa mistura de especiarias finas e caras.
Ao provar, eras salobro,agua parada na moringa
Sem a nobreza que surge de uma casta rara.


Matastes os meus sonhos com tua crueldade
Afundastes em mim as tuas mãos sujas de lama
Até minha alma sentir-se pobre e aturdida.


O tempo abriu-me os olhos para a crua realidade
E deu-me a medida exata de tua chama.
Não eras luz, só fogo fátuo a assombrar a vida.


-Helena Frontini-

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010


Procurados


Embalei meus sonhos em papel de presente
Numa caixa amarela e um laço dourado.
Repousam quietos na dormencia da mente
Esquecidos de mim e jamais perturbados.


Criam teias de aranha os sonhos não usados
Acabam embolorados em velhas prateleiras.
Num repente abro a caixa,os nós desatados
Procurando limpá-los da imensa poeira.


Os sonhos escapuliram todos em liberdade
Criaram asas que nem pensei existissem
Desertaram e se foram mundo à fora.


Eu os esqueci e encaixotei é bem verdade
E nada mais justo que sumissem
Vou trazê-los de volta e vai ser agora!


-Helena Frontini-

Felicidade


Levarei lirios brancos e puros ao te encontrar
Uma braçada de lirios embalados em paz.
Paz generosa que me transmites todos os dias
Tornando meus dias uma canção de ternura.
Ternura parte essencial do nosso amor...
Amor maduro que me envolve em alegria
Alegria que se traduz em felicidade
De amar e ser amada.


-Helena Frontini-

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010


Opressão


Perambulam pessoas no vasto campo daninho.
Mentes secas,vazio,abandono,desolação...

As dores misturadas à ignorancia do caminho
Matam sonhos e cada um vai só em seu destino

Todos roubados na honra e na segurança.
Até que pareçam iguais,contidos cordeirinhos.

Vem à luz um universo caótico e desconhecido
Parido em terras de ódio, e segregação.

Estranha esta conduta humana de retrocessos
Desfazendo o poder Maior de forma letal.

Quem os salvará do carrasco desumano:
Deus,a Justiça,o Homem bom,um ser espacial?

Enquanto nada acontece e mude o processo
Aflitos, dormem de olhos abertos.


-Helena Frontini-

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010


Meu filho


Meu menino era um pássaro delicado
Alvo como a neve nas montanhas
Olhos azulados que lembravam o mar
Trigo queimado em seu cabelo claro.
Perfeito como um instante de paz...


Quando apareceu um anjo segredou:
Ele fica,mas por tempo limitado.
Um limite tão pequeno e tão fugaz!
Retornou à sua morada nas estrelas
Deixou a saudade em seu lugar...


-Helena Frontini-

Ponto final


Olhe-me mais uma vez antes que eu me vá.
Dize-me as palavras que nunca soubestes.
Conte-me do medo que sentes desta solidão.
Pede-me que eu permaneça e reconsidere.


Olho-te pela ultima vez e não me arrependo.
Digo-te não haver palavras que me prenderão.
Conto-te do amor acabado e da liberdade.
Peço-te que me esqueça,estou indo embora.


Deixo-te com os olhos velados em descrença.
Vou-me com os olhos abertos de esperança.


-Helena Frontini-

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010


Coragem


Vives nesta casa miúda feita de assombros
Encolhida de sentimentos e emoção.

Cuida, que o coração grita alto e vai fugir
Da prisão imposta por tua insegurança.

Precavida e incerta é a morada da solidão:
Armadura rodeada de escombros.

Há que sentir o pulsar latejante da veia
E querer como querem as crianças.

Vontade! Que a vida é risco e paixão.
Basta abrir a porta e sair.


-Helena Frontini-